(texto da autoria do Sr. Prof. Rui Baptista)
Respondendo ao amável convite do meu amigo António Botelho de Melo (Tomané), sempre pronto em noticiar acontecimentos desportivos ocorridos nessa saudosa terra do Índico, eis-me aqui novamente, com o prazer que me dá recordar esses tempos.
Começo por transcrever pequenos excertos de uma longa entrevista por mim dada ao jornal moçambicano “NOTÍCIAS” (23/09/1963), em vésperas da realização dos “Campeonatos Abertos de Bench Press”, inseridos nas Comemorações do 39º ano do Clube Ferroviário de Moçambique:
“Natural me parece que o Ginásio apresente uma equipa mais forte. Fundamenta-se esta minha convicção na existência da sua secção de Pesos e Halteres ainda mesmo antes da minha chegada a esta cidade vai para cima de seis anos. O Ferroviário tem a sua secção a funcionar há mais ou menos dois anos. Forçosamente, este é um factor a ter em consideração. Seja como for, a equipa que treino vai na disposição de discutir o primeiro lugar, já que o segundo está desde já ao seu alcance!!! O que mais importa é o progresso da modalidade que só será possível e desejável com competições deste género.
O júri deste concurso é constituído por um presidente (convidado pelo Ferroviário) e por dois juízes: um do ginásio e outro do clube organizador (Ferroviário). Foi convidado para presidir ao júri , o Delegado da Federação Portuguesa de Ginástica em Moçambique , o major Garcia Alvarez, sendo os juízes por parte do Ginásio e do Ferroviário, respectivamente, os senhores Carlos Costa e Epifânio Cunha.
Tínhamos ouvido o suficiente para esclarecermos os nossos leitores do que será a realização dos ‘locomotivas’ no campo dos pesos e halteres.
Agradecemos ao professor Rui Baptista a atenção dispensada e ele lá foi para a sua tarefa de contribuir para que a juventude local se torne mais forte e saudável pela cultura física , praticada em bases pedagógicas certas, de experiência e saber feitas por quem sabe o que quer e para onde caminha, através de uma acção profissional assente em preparação que se torna indispensável para bem servir e cumprir!”
Finalmente, na noite de 28 de Setembro de 1963, realizou-se, no Ginásio do Clube Ferroviário, repleto de um público entusiasta, a referida competição com a participação de sete atletas do Ginásio de Lourenço Marques, 12 do Clube Ferroviário de Moçambique e um independente. Dou agora notícia dos atletas classificados nos primeiros três lugares das três categorias: leves, médios e pesados. Assim:
CATEGORIA DE LEVES (atletas com o peso corporal até 67,5 quilos )::
1.º Carlos António (Carvalhinho), do Clube Ferroviário de Moçambique (CFM) com o peso corporal de 60 quilos, e o levantamento de 101,925 quilos.
2.º Pedro Laranjeira, do CFM, com o peso corporal de 62,5 quilos, e o levantamento de 86,07 quilos.
3.º Artur Roxo, do CFM, com o peso corporal de 65,1 quilos, e o levantamento de 86,07 quilos.
CATEGORIA DE MÉDIOS ( atletas com o peso corporal até 82,5 quilos):
1.º Rui Baptista, do CFM, com o peso corporal de 75 quilos, e o levantamento de 122,31 quilos.
2.º Veloso do Amaral, Ginásio de Lourenço Marques (GLM), com o peso corporal de 71,9 quilos, e o levantamento de 117,78 quilos.
3.º Manuel Carvalho (Baião), do GLM, com o peso corporal de 79,5 quilos, e o levantamento de 117,78 quilos.
CATEGORIA DE PESADOS (atletas com o peso corporal acima dos 82,5 quilos):
1.º José Coelho, do CFM; com o peso corporal de 90 quilos, e o levantamento de 134,08 quilos.
2.º Leong Siu Pun, do GLM, com o peso corporal de 83,2 quilos, e o levantamento de 131,37 quilos.
3.º Fernando Morgado, do CFM, com o peso corporal de 85,5, eo levantamento de 80,6 quilos.
Para a classificação por equipa (conforme constava do regulamento do concurso) foram atribuídos 3 pontos ao 1º. classificado de cada uma das categorias, 2 pontos ao 2.º classificado e 1 ponto ao 3.º classificado. Venceu a competição a equipa do Clube Ferroviário de Moçambique com 13 pontos, tendo a equipa do Ginásio de Lourenço Marques obtido 5 pontos.
Julgo de interesse referir que nesse tempo os esteróides, substâncias aceleradoras do crescimento da massa muscular e aumento da força, não constavam da preparação “química e criminosa” destes atletas tornando estes resultados de grande nível nacional (não tenho dados comparativos que me permitam considerar uns tantos como recordes nacionais). Mais esclareço que todos estes resultados estão certificados por dois artigos do jornal “Tribuna” (respectivamente publicados em 29 de Setembro e 1 de Dezembro de 1963), cujos recortes mantenho em meu poder numa pasta de artigos que o tempo e as traças tentam destruir.
Por último, seria interessante que algum ou alguns dos atletas que participaram neste Campeonato enriquecessem este modesto post com os seus comentários. Seria uma forma de avivar a recordação desses tempos e estabelecer contacto com atletas que muito dignificaram o culturismo moçambicano. Valeu?