THE DELAGOA BAY COMPANY

Junho 7, 2019

RENATO CALDEIRA E O DESPORTO EM MOÇAMBIQUE NOS ANOS 60

Imagem (retocada) e uma crónica lúcida e interessante, muito ligeiramente editada, da autoria do jornalista Renato Caldeira, reproduzidos com vénia d’O País, jornal publicado em Maputo, na edição de 29 de Novembro de 2018.

 

A equipa de futebol de O Belenenses de Lourenço Marques, presumo. Para encontrar a mesma imagem indexada, ver em baixo. O Renato está aqui algures.

 

O Desporto nos Anos 60

O futebol nos anos 60, era uma loucura. Nos bairros, o destaque ia para a Mafalala e o Xipamanine, com tudo a culminar no “Xilunguine”. Ter acesso a um campo de futebol e poder ver estrelas como Abel Miglietti, Carlitos ou Mombaça, que tinham nível para entrar “de caras” nos chamados três grandes de Portugal, era quase um sonho.

Tinha eu 16 anos, provinciano recém-chegado de Quelimane, olhos e olhares esbugalhados perante o “néon” da Lourenço Marques de então. Comecei a jogar nos júniores do Belenenses, II divisão, que treinava no campo do Ferroviário na Baixa, às terças e quintas, das 21 às 23 horas. Jogávamos ao domingo de manhã.

Mas a minha paixão principal era pelo atletismo, em que treinava todos os fins de tarde, excepto aos sábados e domingos, em que aconteciam as provas no Parque José Cabral [hoje, dos Continuadores] perto do Hotel Polana. E ainda estudava à noite, na Escola Industrial. Uma vida bem preenchida!

Jornalismo: “paredes-meias” com as corridas e pontapés

Ano de 1966. Vivia eu o desporto, no nervo e no sangue. Naquele tempo, dificilmente um jovem praticava uma só modalidade. Eu não era excepção.

Porém, havia que dar prioridade à profissão de tipógrafo. Mesmo assim, como produto de alguma irreverência, surgiu um outro “bichinho”: escrever para o desaparecido Diário de Lourenço Marques, jornal que ficava ao lado da Sé Catedral. Fazia pequenas crónicas dos jogos das II e III divisões, mais as partidas de juniores. O “salário”? Um cartão de livre-trânsito que me permitia assistir a todas as competições desportivas. Assim, esmerava-me, era assíduo porque ao possuir um “livre-trânsito” até me considerava bem remunerado. Saía do Bairro de Chamanculo, com amigos e era o único que não tinha que aguentar filas e empurrões nos portões.

Crescer e aparecer

Entrar na Redacção do Diário de Lourenço Marques e beneficiar de uma secretária para rabiscar as minhas croniquetas sem eu ter a cor “adequada” de então, era na altura uma aventura. Uma raridade.

Recordo-me que no dia 29 de Junho de 1968, fui indigitado para cobrir um combate de boxe para o título mundial, realizado na Praça de Touros, engalanada, entre um norte-americano negro chamado Curtis Cokes e o sul-africano Willie Ludick, de raça branca, combate que veio para Lourenço Marques por causa do apartheid na vizinha África do Sul. Com o meu melhor fatinho, lá me sentei numa das cadeiras da primeira fila para reportar o autêntico massacre que o americano infligiu ao nosso vizinho, num combate que acabou no terceiro assalto. No dia seguinte, já como espectador, vivi as emoções do Portugal-Brasil na inauguração do Estádio Salazar na Machava. Foi assim que o bichinho entrou, para ficar, já lá vão 50 anos.

Um atleta mediano

O ambiente no atletismo do Sporting era excepcional. A rivalidade era face ao Desportivo e ao Ferroviário. Nos “leões”, a fraternidade entre atletas masculinos e femininos era a razão principal da minha assiduidade. Lucrécia Cumba, Abdul Ismail, António Fernandes, Magid Osman e outros, eram as estrelas treinadas por Luís Revez, técnico recentemente falecido.

Da minha parte, com marcas modestas, a paixão pela corrida proporcionava-me grande vantagem no futebol.

No desporto-rei, sem ter tido uma carreira brilhante, joguei no Belenenses dos juniores aos seniores, actuando a defesa central, de 1965 a 1969. Era considerado pendular, ao ponto de ter sido “namorado” pela Académica de Coimbra, na sua digressão por Moçambique no final da década 60.

Seguiu-se uma temporada no Ferroviário de Inhambane em 1970 e no ano seguinte no Sporting de Tete, sempre como titular e campeão nos então dois distritos.

Curta, mas apaixonada, foi a carreira deste escriba, que subalternizou o desporto, primeiro pela gráfica, abraçando, com paixão, poucos anos mais tarde o jornalismo como profissão, até aos dias de hoje.

 

A mesma imagem, indexada. Se o Exmo. Leitor conhecer algum dos valentes, e a equipa, por favor escreva uma nota para aqui.

Outubro 19, 2013

CARLOS WILSON, FERNANDO MATOS, MANUEL BRAGA, NEVES E TAFOY, BOXISTAS DE MOÇAMBIQUE, 1945

Muito grato a Raquel Braga, filha de Manuel Braga, que se deu à chatice de digitalizar e enviar cópias dos documentos em baixo, que foram recuperados.

Recorte de um jornal português não identificado, de 1945, dando notícias da chegada a Lisboa dos pugilistas moçambicanos.

Recorte de um jornal português não identificado, de 1945, dando notícias da chegada a Lisboa dos pugilistas moçambicanos Fernando Matos e Carlos Wilson, Júlio Neves, Manuel Braga e Jorge Tafoy. Aguardavam-nos Carlos Gomes, Xangai Justino Rodrigues e Jorge Larzen.

Segundo a Raquel Braga, filha de Manuel Braga, este fotografia foi tirada no ringue do Campo Pequeno, Portugal, em 1945.

Segundo a Raquel Braga, filha de Manuel Braga, esta fotografia foi tirada no ringue do Campo Pequeno, Portugal, em 1945. Supostamente são os boxistas de Moçambique mas não sei onde pus a legenda. Deixo aqui uma grelha e quem puder ajudar, por favor escreva para aqui com detalhes. Da esquerda: B1, B2, B3, B4, B5, B6 e B7. Ah já encontrei. A Raquel escreveu: “contando da esquerda para a direita: Jorge Táfoi, Fernando Matos, Xangai, a pessoa a seguir ou é o manager Palma Moura ou Carlos Gomes estou em duvida de seguida Carlos Wilson, Manuel Carvalho Braga e Júlio Neves, a foto foi tirada no ringue do Campo Pequeno em Lisboa”.

Fevereiro 10, 2011

CARLOS ROCHA, ÍCONE DA LUTA LIVRE, ANOS 60

Filed under: 1960 anos, BOXE, Carlos Rocha — ABM @ 3:26 pm

Carlos Rocha, pugilista que disputou vários combates em Moçambique nos anos 60.

Janeiro 16, 2011

CARLOS GOMES, BOXISTA DE MOÇAMBIQUE

Estes documentos foram gentilmente enviados por Fernando Pinto, neto de Carlos Gomes.

Carlos Gomes nasceu no Lumiar, em Lisboa, em 28 de Abril de 1915. Eventualmente foi viver para Moçambique, onde se formou na prática do boxe sob a tutela de um treinador sul-africano. Nos anos 30 começou a notabilizar-se neste desporto. Em meados dos anos 30 prestou serviço militar em macau, após o que regressou a Moçambique, tendo realizado combates na então colónia e em Portugal. Era sócio e atleta do Ferroviário e trabalhou quase toda a vida nos Caminhos de Ferro de Moçambique.

Carlos Gomes fez parte do que a actual Federação Portuguesa de Boxe classificou como um “boom” de pugilistas vindos de Moçambique: “Na década de 40, houve um «boom» na actividade com a chegada dos moçambicanos Luis Eugénio «Xangai» Carlos Wilson, Beny Levi e Fernando Matos, que juntamente com Valente Rocha, Alfredo Oliveira, Eduardo Alves e tantos outros, fizeram bons combates no Parque Mayer.”

A licença de pugilista de 2ª série, emitida pela Federação Portuguesa de Boxe, a Carlos Gomes, com data de 1943.

 

Carlos Gomes, foto da sua carta de condução de… Macau.
Cartaz de anúncio de sete combates de boxe em Lourenço Marques em 10 de Julho de 1937. Entre eles, o combate entre Carlos Gomes, pelo “Clube Desportivo Ferro- Viário” e o peso médio sul-africano N. Calemborne. De notar em baixo nos preços de admissão, a tarifa de “indígena”: 5 escudos, contra um preço de cadeira de ringue de 35 escudos. Os outros combates envolveram Beny Levy vs. V. Brand, Fernando Águas vs. Erasmus, Frank Gonçalves vs.  R. Pegado, Manuel Barbosa vs. Carlos Amaral, Messias Moniz vs. Carlos Rodrigues e Firmino Carvalho vs Reinaldo Jaques.
Notícia assinalando a atribuição a Carlos Gomes do emblema de sócio do Ferroviário há mais de 25 anos.
Desenho do pugilista Carlos Gomes, feito pelo seu filho Carlos Alberto, 1936.
Cartaz anunciando a realização, em 10 de Outubro de 1936, de seis combates de boxe: Levy vs. Bohler, Carlos Gomes vs. P. Brand, Larsen vs. Hewitt, Luis Eugénio vs.B. Zulch e Fernando Águas vs. J. du Plooy. Uma pequena nota em baixo detalha o sexto combate: “A sessão abre, a pedido, com um combate entre dois africanos”.  Estes dois pugilistas do primeiro dos seis combates, não tiveram direito a nome.

Capa da carta de condução de automóveis de Carlos Gomes, emitida em Macau.

Interior da carta de condução de Carlos Gomes, emitido em 1938.

Interior da carta de condução de Carlos Gomes. Aqui com 22 anos de idade.

Interior da carta de condução de Carlos Gomes.

Combate de Carlos Gomes em Agosto de 1943.

Combate realizado em Lisboa entre Carlos Gomes e o campeão da Ilhas Canárias, vencido por Carlos Gomes. Á esquerda de Carlos Gomes (com robe à direita) está Canelas Júnior, o seu manager. Presumo que o combate realizou-se durante a II Guerra Mundial.

Carlos Gomes e o seu manager Canelas Junior em Lisboa. Foto tirada no dia 14 de Agosto de 1943.

Combate em Lisboa realizado no dia 12 de Agosto de 1943 entre Carlos Gomes e o campeão das Ilhas Canárias.

Carlos Gomes em acção durante um combate.

Notícia da chegada a Lisboa dos pugilistas moçambicanos Carlos Gomes (à direita) e Justino Rodrigues, a bordo do paquete Quanza. Não sei quem é o senhor no meio, mas mesmo por cima da foto está escrito "Xagai", pelo que se deduz ser o pugilista, também de Moçambique, Luis Eugénio "Xangai".

Recorte de jornal de Lourenço Marques dando notícia de mais um combate de Carlos Gomes.

Uma avaliação dos dois pugilistas vindos de Moçambique assinada por Rufino Sena, que não parece ter ficado lá muito impressionado com os jogos de teste, conduzidos à porta fechada no Campo Pequeno, em Lisboa.

Vista da Avenida Almeida Ribeiro em Macau, em frente ao Leal Senado, cidade onde Carlos Gomes esteve na segunda metade dos anos 30, e de onde visitou Singapura.

Numa das saídas de Lourenço Marques de Carlos Gomes, as pessoas a despedirem-se no cais dos passageiros do Paquete Moçambique. Para se ver melhor, prima duas vezes sobre a fotografia. Esta foto é também reproduzida no blogue "Delagoa Bay World".

Carlos Gomes e a sua mulher, Irene, em Lourenço Marques.

Yosepe W. Gomez, creio que um colega de Carlos Gomes.

A legenda diz apenas "Luis Lopes da Silva, 29 de Abril de 1956". Deve ser outro pugilista do tempo de Carlos Gomes.

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