THE DELAGOA BAY COMPANY

Dezembro 4, 2011

UMA NOTA DE ABM SOBRE O RACISMO NO DESPORTO MOÇAMBICANO NO TEMPO COLONIAL

Copio para aqui, com alterações menores, um comentário que fiz em resposta ao comentário do nosso amigo da caneta René Boezaard (holandês, não conheceu Moçambique antes da Independência mas que conhece muito bem a realidade desportiva moçambicana recente) de que cada um parecia ter a sua verdade na questão de haver racismo em relação ao Eusébio no Sporting Clube de Lourenço Marques por ele (Eusébio) ser preto num clube de brancos (pois essa é a questão em análise, não o racismo em geral):

Não sei René. As coisas eram como eram no tempo colonial e o facto é que tipicamente as poucas cidades moçambicanas eram esmagadoramente habitadas por brancos. Logo, a maioria dos clubes situavam-se nas cidades, enquanto que as perifierias eram esmagadoramente habitadas pela população de raça negra.

Em termos de sócios, os clubes reflectiam essa realidade (falo dos anos 60 e 70 – nasci em 1960) mas NÃO (e aí concordo com o Sr. Braga Borges) em termos de atletas e muito menos de atletas de raça negra de talento no futebol, que na minha opinião, podiam ir para onde bem quisessem. Sim, os atletas negros (as suas famílias) tipicamente eram muito mais pobres pelas razões sócio-económicas conhecidas. Mas para teres ideia, eu, que sou branquinho da Silva e que sempre vivi na Polana, nadava no Desportivo, e sempre só tive um fato de banho. A minha roupa tinha duas mudas, um par de sapatilhas e um de sapatos.

A ideia de que os brancos viviam em Moçambique num mar de luxúria e os negros num mar de miséria é extremamente relativa e deve ser contextualizada, o que, por razões ideológicas e de perspectiva, tende a ser descurado. A maior parte dos brancos que iam viver para Moçambique iam com uma mão à frente e outra atrás e a riqueza que acumulavam era acumulada através do trabalho. Até quase aos anos 1970 não havia uma universidade em Moçambique – nem para brancos nem para pretos.

Adicionalmente, tirando o futebol, a maior parte dos desportos praticados eram praticados por brancos, por razões mais culturais dos brancos de Moçambique que outra qualquer. Em Moçambique praticava-se muito mais desporto e fazia muito mais parte da cultura local e da rotina das pessoas que em Portugal, mesmo ainda hoje. A população negra de Moçambique nem por isso praticava desporto, apesar de nos anos 60 a situação estar a mudar muito rapidamente. Por exemplo, no Distrito de Lourenço Marques em finais dos anos 60 o desporto já era uma parte importante do currículo escolar e estava dotada com infra-estruturas desportivas, o que em Portugal não acontecia.

Tendo dito isto, creio que, claro que, na estrutura social e de poder os negros moçambicanos não tinham quase nenhum voto na matéria. Eram cidadãos de 2ª e 3ª classe e frequentemente desrespeitados e abusados. O racismo era endémico e inerente em relação a tudo o que se fazia. Eu creio que isso se estava a alterar e alteraria mais até ao final dos anos 70, tivesse o arranjinho colonial perdurado mais uns tempos até a uma independência que não havia dúvida havia de acontecer e teria de acontecer. Mas tudo acabou com um enorme “bang” em 1974, sob a égide dos senhores Comité Central da Frelimo, que tinham ideias peregrinas sobre o que fazer.

Voltando aos clubes, lembro-me de, por exemplo, no princípio dos anos 70, o Desportivo, o clube onde eu cresci, ter feito esforços para recrutar mais sócios, não descurando os sócios de todas as proveniências raciais e sócio-económicas, que era algo que especificamente me lembro. Se não me engano as quotas nessa altura eram uns 100 escudos por ano, o que era praticamente de borla.

Não sei como era no Sporting em termos de sócios. Mas imagino que havia clubes (Clube de Pesca, Clube Marítimo, Clube Militar, Clube de Golfe da Polana, Associação dos Antigos Estudantes de Coimbra, Grémio) não houvesse muitos sócios negros. Mesmo para os padrões económicos mais elevados dos brancos, esses eram clubes caros e de elite. Mas esses clubes especializavam-se em poucos desportos caros e tinham um cariz social muito mais acentuado que os restantes.

Mas mesmo aí duvido que o critério de acesso fosse o da cor de pele. Acho que era mais a côr do dinheiro e as afinidades dos sócios. Num contexto de uma sociedade racialmente empolada, em que como, uma vez referiu o meu caro Dr. Mário Machungo, no princípio dos anos 70, um negro que quisesse alugar um apartamento na Polana…simplesmente não acontecia.

Ou, como uma vez me relatou serenamente o Sr. Eurico Perdigão, que me treinou no Desportivo, quando uma vez levou o seu mainato (negro) ao Hospital Central Miguel Bombarda às urgências uma noite já não me lembro bem porquê, ele quase que teve que dar um murro em quem o atendeu pois queriam chutar o jovem nem sei bem para onde porque ele era preto (para que conste, ele foi atendido e tratado ali, mas o Sr. Perdigão referiu ter a certeza de que se ele – um branco – não tivesse ido com ele ao hospital, e insistido, isso nunca teria acontecido.

E esta é a “minha” modesta verdade.”

Quanto à natação, que ambos conhecemos, e que pratiquei no Desportivo até 1975, quando fui estudar para Coimbra, sim, quase não havia nenhum nadador negro em LM nos anos 60 e 70 – mas isso era necessariamente “racismo”? explica lá isso. Afinal, o que é “racismo”? ainda hoje se alguém for a Maputo, a natação é um desporto urbano e de elite. E no tempo colonial a elite era esmagadoramente branca.

Para além de que, por razões que nunca estudei, em geral e em todo o mundo as pessoas de raça negra, que limpam o sebo a tudo e todos em atletismo, basquet e muitos outros desportos, são notoriamente omissos dos livros de recordes em natação. Mas eu acho que é uma questão de tempo e de oportunidade e eles e elas vão aparecer.

Como acima refiro, os padrões de prática desportiva em Moçambique reflectiam os padrões sócio-económicos que sim, reflectiam uma estrutura inerentemente racista. Mas não por si só e em absoluto. No resto de Moçambique hoje em dia ainda não se pratica tanto a natação, em boa parte simplesmente porque as piscinas que há são as que se fizeram há 50-60 anos, estão num estado duvidável e por maioria de razão continuam situadas no meio das cidades.

Creio que isso acontece em parte também porque é imensamente mais barato jogar à bola ou correr do que jogar ténis, correr carros, nadar ou jogar golfe.

No caso acima abordado, estamos ainda por cima a falar de descriminação contra o Eusébio (entrevista à Ùnica, Novembro de 2011), um expoente de talento que marcou o mundo e cujo valor já em 1958 quem estava nos meandros do futebol em Lourenço Marques reconhecia. A ideia de que ele terá sido maltratado ou menosprezado por ser preto (saliento que ele é mulato, o pai dele era branco de Angola e morreu em Moçambique quando ele era miúdo), ainda por cima no futebol, cujas putativas barreiras raciais já haviam sido brilhantemente escancaradas por muitos outros antes dele, parece-me ser um pouco peregrina. Que havia (e há, não te enganes) racismo nem é tanto a questão. Afinal, quase que aposto que em 1959 o Sporting de Lourenço Marques não devia ter um sócio preto. Mas o Eusébio ter sido prejudicado por isso?

Eu duvido.

Mas ele lá sabe.

ALEXANDRE FRANCO E O RACISMO NO DESPORTO EM MOÇAMBIQUE NO TEMPO COLONIAL

Alexandre Franco, um dos alicerces do basquet em Moçambique pré-Independência.

As declarações de Eusébio na entrevista concedida à revista Única iniciaram algum debate em torno da questão do racismo em Moçambique e no desporto de Moçambique antes da Independência. De alguma forma, tento recolher esses testemunhos, que poderão ser do interesse dos exmos. Leitores e para futura referência.

Em baixo, na primeira pessoa, o comentário de Alexandre Franco, um dos grandes do desporto moçambicano pré-independência, na modalidade de basquet.

Alexandre Franco hoje reside na grande cidade de Toronto, no Canadá, onde gere o Millennium-Post, uma publicação em língua portuguesa.

Mas nunca esqueceu Moçambique, tendo estado em Maputo recentemente de visita.

O seu comentário:

Conheço bem o Alberto Rodrigues e sei que ele também me conhece. Respeito as suas palavras e a verdade é que ele é um bom bocado mais velho do que eu. Diria mesmo que cerca de 10 anos.

Contudo, tudo quanto ele diz, e eu nasci em Moçambique e sou de raça branca, nem no Desportivo, nem no Sporting, nem no “seu” (do Alberto) Ferroviário, pois ele sempre foi mais conhecido como jogador de basquetebol do Ferroviário e de futebol, do Indo-Português, do que como treinador, que também foi, do Desportivo e do Malhangalene, condiz com a minha vivência, desde os meus cinco anos de idade, primeiro no Ferroviário, nos tempos do Lenine, do Luís Pina, do Adão “Linda”, do Desportivo do Frederico Morais, do Becas, do Carlos Alemão do Chico Martins, do Sporting do Octávio Bagueiro, do Branquinho, do Bebé, do Hélder Silva e com estes nomes ele bem sabe que estou a referir-me aos meus tempos de miúdo, ou seja dos meus cinco anos. Mas vivi em Moçambique até aos meus 31 anos altura em que saí como treinador da equipa principal de basquetebol do Sporting de Lourenço Marques e adjunto do Alberto Correia Mendes na Seleção Nacional de Moçambique que disputou os Jogos da Independência de Moçambique, para já não falar no Mário, no Nelson, no Vítor Morgado, no Sérgio Carvalho, no Luís Almeida, no Simango, sem esquecer os putos que levei à primeira categoria, casos do Artur Meirim, do Manuel Santiago, do Hélder Silva (filho), do Mário Martins, do Marques, do Mário Lopes e de tantos outros, numa variedade enorme de raças, desde os 5 até aos 31 anos de idade… nunca, mas mesmo nunca, deixámos de privar com pessoas de todas as cores e de todos os credos. O Alberto, indo-português, poderá ter passado por uma ou outra situação menos agradável, mas não julgo que isso lhe dê o direito de sair em defesa de uma série de asneiras que o Eusébio está farto de dizer, rejeitando reconhecer tudo quanto por ele foi feito. O que ele ficou a dever ao Vigorosa (que também não era branco), ao Sr. José Mateus, que era branco (e que tantas notas encarnadas – na altura eram notas de cem escudos, que metia no bolso do Eusébio – eu vi com os meus próprios olhos – por cada golo que ele marcava – a não ser que era este tipo de racismo que o Eusébio se referia, o de ser um branco a dar dinheiro a um preto?!), ao Fernando Costa, que também era branco e até alegando que o Sr. Elísio Pereira se fazia passar por branco, o que eu, que convivi com ele diariamente no Campo João da Silva Pereira, nunca percebi, porque a cor da sua pele era o que menos nos incomodava. Um puto de raça negra que nem se aproximava de nós no Continental, mas que era convidado a sentar-se connosco para comer uma torrada e beber um café com leite, que o 21 (ainda há muito gente que se lembra do 21, que era o nosso habitual empregado de mesa). Era este o racismo a que o Eusébio se referiu???

Ainda recentemente estive em Moçambique e fui maravilhosamente recebido por gente dos meus tempos de todas as cores e credos, tal como já acontecia naqueles que foram os melhores anos da minha vida, entre gentes de todas as cores e feitios.

Continuo a gritar a renegação do Eusébio ao Sporting Clube de Lourenço Marques por tudo e mais alguma coisa e até sugiro que leiam a edição do meu jornal http://www.postmilenio.com do próximo dia 16 de Dezembro, edição especial de Natal, onde vou colocar as “inverdades” de um tal “Pantera Negra” bem a claro.

E atenção, já lhe disse isto, pessoalmente. Ele (o Eusébio) aprendeu a odiar o Sporting. Até aí, tudo bem. Há muitos benfiquistas que lêem pela mesma cartilha. Agora dizer as asneiras que diz quando afirma que nem se lembra de ter jogado com a camisola do Sporting (o que me disse a mim) e de que o Sporting era um clube racista… Por Favor!!!

Aqui em Toronto, onde resido há muitos anos, encontrei um dia o Eusébio com o “seu” Presidente Luis Filipe Vieira. Ele (o Eusébio) chamou-me e disse-me que queria apresentar-me o “seu” Presidente. Muito bem. “O meu nome é Alexandre Franco, tenho muito prazer”, o que foi seguido das seguintes palavras; “Ah, você é o amigo do Eusébio que é do Sporting!”. E eu respondi, “Do mesmo Sporting que foi o Eusébio, o Sporting Clube de Lourenço Marques!” Meu Deus, o que fui dizer. “O quê? Já nem me lembro disso!” Que pena, que pena… e eu que a partir daí disse para comigo mesmo: “Eis as palavras tristes do meu Ex-amigo Eusébio da Mafalala.”

Não posso omitir aqui os nomes de alguns dos meus melhores jogadores, como também foram os casos de Luís Dionísio, do Eustácio Dias, João Donato, do Tam Ling, e na Seleção de Moçambique, do Sing, do Costa, do Araújo, do João Domingues, e ainda do Vítor Agostinho, do Orlando Noronha, do Carlos Rocha, do Mahlon Sanders, do João Silva, do João Ferreira, que foram meus jogadores no Benfica de Lourenço Marques (secção de Basquetebol que foi formada por mim, a pedido dos meus amigos Luís Branco – da Wagons Lits e Francisco Machado; e ainda de nomes como os do Beto Correia Mendes, Carlos Neves, Luis Neves, José Joia e Carlos Joia, Rendas Pereira, e tantos outros que de momento não me lembro.

FRANCISCO VELASCO COMENTA SOBRE O RACISMO NO DESPORTO EM MOÇAMBIQUE NO TEMPO COLONIAL

O superlativo Francisco Velasco.

Em baixo, o comentário do grande campeão de hóquei Francisco Velasco, transcrito de outro local neste blogue (o comentário de Alberto Dias, em relação a uma entrevista de Eusébio à Revista Única no início de Novembro de 2011 e à reacção de Braga Borges).

 

Parte do que está aqui dito [comentário de Alberto Dias, ver AQUI]  possui laivos de verdade, verificando-se contudo uma grande confusão no respeitante a datas.

Antes de mais um abraço ao Alberto Rodrigues, que treinou as minhas primas Abrilete e Maria da Luz e talvez tenha jogado com o meu primo Leonel. Cruzávamos-nos no Clube e envio-te as minhas saudações desportivas.

Colonialismo e Racismo são as faces da mesma moeda. Ambos são dinâmicos, isto é, transformam-se com o decorrer dos anos, diluindo-se ou tornando-se virulentos e basta uma década para verificarem modificações substanciais. Veja-se que hoje, uma grande potência mundial passou, no espaço de 10 anos, de uma nação de liberdades constitucionais adquiridas, para uma em que as mesmas já começaram a ser definitivamente ignoradas ou destruídas, mas esse é outro assunto…

Neste caso do Eusébio, temos de circunscrevermo-nos aos anos em causa: 1959, 1960 em que ele comprovadamente jogou em júniores nesses anos e em séniores em 1961. As fotos de Braga Borges demonstram isso e que não havia o tal apregoado “racismo”. Ponto final.

Reportas-te, Alberto, a 1951. Esses foram tempos diferentes e anteriores aos em causa, e se formos por aí, mais uma década atrás, vamos dar com filas de pretos, acorrentados, que eu via passar à frente da minha porta, quando acordava de manhã cedo para ir para a escola. Caminhavam para trabalho forçado. E se recuares uns tempos mais, vê-los-íamos a serem “caçados” para serem enviados e leiloados em praças espalhadas por certas nações esclavagistas de vários continentes.

Até 1954, o Clube Ferroviário possuía um elenco de hoquistas brancos, se descontarmos o companheiro Labistour. Dois anos depois, 1956, quando assumi o cargo de treinador do CFLM, integrei na equipa atletas não brancos, provenientes das Reservas e Júniores. Tanto quanto pude testemunhar, o elitismo e também o racismo esfumaram-se por esta altura, com a naturalidade do passar de anos de uma sociedade colonialista a braços com a sua própria dinâmica transformadora. Em 1958 não se podia falar de racismo nos clubes. Presumo eu que as condições económicas e o estado psicológico dos pretos, continuamente minimizados e inferiorizados, forçavam-nos à não prática desportiva nos clubes da cidade, com excepção da bola que era praticado por toda a cidade em espaços devolutos que iam capinando para conseguirem uma espécie de campos de futebol.

Quanto ao serviço militar, quero recordar aqui que a ordem colonial estipulava que só brancos e pretos é que prestariam serviço nas forças armadas. Estava excluídos todos os outros. Sucede porém, Alberto, que dois anos antes de teres sido dispensado por excesso de contingente, também eu o fui apesar de ter sido aprovado na inspecção médica. Como me conheciam do desporto só me tiraram o peso e a altura e carimbaram imediatamente a minha integração. FIZERAM BORRADA pois isto tudo sucede quando os “satiaghras” criavam problemas em Dadra e Nagar Aveli, e o Antoninho, o tal dos plainites, deu ordem às estruturas militares para incorporarem todos, mestiços, indianos e chineses e estes todos seriam aquartelados à parte, e não iam para Boane.

O problema deles, em relação a mim, é que, sendo branco, eu iria ficar num aquartelamento de não brancos e isso fez-lhe cócegas na cabecinha e eliminaram-me por excesso de contingente, não se apercebendo que quando eu fiz fila para o exame médico, todos atrás e à frente eram meus companheiros de escola e de folguedos desde tenra idade, onde eu me sentia bem pois nunca usei óculos de cor. Reagi, e o General Raul Martinho, comandante militar, teve de me enfrentar, mas esta é uma história que contarei noutro local.

Não sei porque tu, caro Alberto, foste dispensado dois anos depois de mim, o teu caso talvez fosse diferente, apesar de sermos conterrâneos, natos no mesmo Estado da índia. Ou se calhar seria mesmo excesso de contingente… Olha que o Amadeu Bouçós e o Alberto Moreira não escaparam, tiveram férias em Boane, donde se ausentavam frequentemente, largando armas e bagagens, para ir representar a Selecção Nacional… Acho que nem sequer aprenderam a dar tiros! (risos).

Um grande abraço, amigo Alberto Rodrigues, felicitando-te pela tua carreira dedicada ao Basquetebol.

Posto isto, reitero que «o pontapé do Eusébio falhou o alvo, o que era raro, e bola lá se perdeu por cima da bancada, para fora do Estádio em direcção ao esquecimento onde deverá permanecer», como já tive ocasião de escrever [aqui] no blogue The Delagoa Bay Company.

Dezembro 3, 2011

O GRANDE ALBERTO DIAS FALA SOBRE O RACISMO NO DESPORTO EM MOÇAMBIQUE NO SEU TEMPO

Alberto Rodrigues, 2º da esquerda com a enorme estrela na t-shirt, com a equipa de basquet séniores do Desportivo LM, que treinou na época 1974-1975.

Muito grato ao Rogério Carreira, que enviou a nota com o comentário de Alberto Dias e ainda mais as fotos, rapinadas do seu grande sítio Roger Tutinegra.

A propósito ainda da entrevista que Eusébio deu à revista Única, e que já mereceu um comentário de Braga Borges (ambos reproduzidos na totalidade nesta casa), em baixo o precioso testemunho de Alberto Dias, de quem me lembro quando treinador no Desportivo.

Para encaixar” aqui, fiz uma edição menor, sem tocar no que de substantivo é dito:

Na segunda-feira passada ao […] ouvir o Dr. Dias Ferreira afirmar que “os racistas são aqueles que dizem que os outros é que são racista” é uma forma pedante de tornar as vítimas em réus, manifestou uma completa ignorância da vivência nas ex-colónias portuguesas.

Tenho 75 anos de idade, poucos anos mais que o Eusébio.

Joguei contra ele nos primeiros jogos que fez pelo Sporting Clube de L.M. em seniores.

Eu jogava modestamente o futebol no também modesto Grupo Desportivo Indo-Português, pois sou de ascendência do antigo Estado da Índia, onde também inicialmente havia um certo separatismo que com o tempo se foi esfumando.

Em 1951, o Indo-Português acabou com a secção de basquetebol, e o clube para onde eu gostaria de ter ido jogar seria para o Sporting de L.M. mas era como Eusébio disse, o Sporting nessa época era efectivamente um clube que só aceitava brancos nas suas hostes, havia uma excepção que era um misto que passava por branco de nome Elísio Pereira. Era efectivamente conhecido também pelo clube dos polícias e só podia ir para a polícia quem tinha feito o serviço militar – que estava vedado aos não brancos, salvo alguns que passavam como tal. Eu fui à inspecção militar e fui dispensado por excesso de contingente, claro que tudo isto antes de ter começado a guerra colonial.

Os da minha geração lembram-se bem que era efectivamente assim.

Com o aparecimento do Eusébio e outros as coisas começaram a modificar-se bastante e as mentalidades a alterar-se um bocado.

A título de curiosidade, informo também que havia um outro clube que tinha o mesmo procedimento que era o Malhangalene, clube do bairro de mesmo nome que era administrado por indivíduos idos de Portugal, claro que depois modificaram os procedimentos.

O grande rival do Sporting era o Grupo Desportivo de L.M. que foi filial do Benfica, e os curiosos que vejam as fotos antigas destes dois clubes e onde militavam os não brancos numa amálgama de cores.

Estou a escrever esta mensagem, porque me disseram que um familiar do Dr. Mário Soares, parece que de nome Barroso, que decerto também não conheceu as realidade das ex-colónias, que disse num jornal que não é verdade o que o Eusébio disse.

Atenciosamente,

Alberto Carmo Rodrigues

(fim)

O cartão de Sócio de Mérito da Associação Distrital de basquet de Lourenço Marques de Alberto Rodrigues, 1967.

 

Alberto Rodrigues à direita. Quem souber quem é o senhor à esquerda, por favor mande uma nota.

 

Alberto Rodrigues com...

 

A equipa de basquet séniores do Sporting Clube de Lourenço Marques, época 1957-1958. A quem souber os nomes, por favor envie uma nota. De pé, da esquerda: P1, P2, P3, P4, P5 e P6. De joelhos: J1, Alberto Dias, J2 e J3.

 

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