THE DELAGOA BAY COMPANY

Junho 22, 2023

MARIA GOURINHO – NADADORA, FORMADORA E CAMPEÃ PIONEIRA DA NATAÇÃO PORTUGUESA

Imagens retocadas. O recorte faz parte da colecção de Eduardo Horta. Para esta peça, tentei contactar Manuela, uma filha de Maria Gourinho, na esperança de obter uns recortes e umas fotos, mas sem sucesso.

Em Lisboa, Portugal, verão de 1940. Maria Gourinho, com 20 anos de idade, é a terceira de pé a contar da esquerda. Maria Esther Cabral também seria pioneira do basquet feminino português, jogando pelo Sport Algés e Dafundo.

Realmente devo começar esta abordagem pela capital colonial de Moçambique, onde os quatro filhos de Maria Gourinho (1920-2018), Edmundo, Teresa, Cristina e Manuela, eram conhecidos entre a juventude desportiva de Lourenço Marques, pelo menos na natação e na vela (no caso do Edmundo, que também nadou nos Velhos Colonos), enquanto que a Mãe, Maria Gourinho, era professora de educação física na Escola Comercial Azevedo e Silva e dava aulas de natação a miúdos na piscina do Grupo Desportivo. O marido de Maria Gourinho era veterinário. De vez em quando durante os nossos treinos, Maria Gourinho sentava-se junto da minha Mãe e da D. Ruth Abreu e ficavam a conversar, no que era um ritual do clube. Ainda apanhei uns anos (pois lembro-me) da filha mais nova, a Manuela Gourinho, estar na equipa sénior do Desportivo e de bater uns recordes nacionais na natação.

Uns anos depois veio aquilo de 1974 e toda a gente se foi embora e se espalhou pelo mundo no espaço de dois anos.

Assim, até há uns meses, eu não sabia mais nada sobre Maria Gourinho, que, aprendi com alguma surpresa, foi de longe a melhor nadadora da sua geração em Portugal, entre meados da década de 1930 e início da década de 1940.

Isso descobri através de um trabalho que os jornalistas José Manuel Delgado e Norberto Santos prepararam e que foi publicado no jornal Record em 2 de Outubro de 2002 e que se segue.

As circunstâncias do surgimento desta peça são curiosas. Maria Gourinho, que em 2002 tinha 82 anos de idade e que vivia perto de Lisboa, fora passar umas curtas férias à Ilha madeirense do Porto Santo. E um dia foi nadar na sua conhecida praia. Por coincidência, nesse preciso dia estava na ilha o conhecido político Marcelo Rebelo de Sousa, actualmente presidente da República Portuguesa, que também costuma nadar no mar com alguma assisuidade. Maria, cujo Pai conhecera bem o Pai de Marcelo (Baltazar, médico e que também foi político antes e até 1974 incluindo uma breve passagem de dois anos e meio como Governador-Geral de Moçambique), interpela-o. Depois do encontro, que pelos vistos o deixou de quatro, Marcelo contacta José Delgado no Record e sugere uma entrevista. Segue a peça.

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3 de 4. À direita, a primeira parte da crónica de Marcelo Rebelo de Sousa.
4 de 4. À direita, a segunda parte da crónica de Marcelo Rebelo de Sousa.

Maria Gourinho viria a falecer em 2018, com 98 anos de idade, deixando três filhos (Manuela, Tina e Edmundo) e uma catrefada de netos.

Uma peça do Sport Illustrado creio que do Rio de Janeiro, Março de 1937, sobre os “sportistas” e sportswomen” mais simpáticos de Portugal (!), vencido pela nadadora Margarida Salazar Carreira, seguida pela nadadora mas mais conhecida basquetebolista pioneira do Sport Algés e Dafundo, Maria Luisa Moniz Pereira (hum, será família do Professor Mário Moniz Pereira?). Maria Gourinho ficou em terceiro lugar. Nos homens venceu Guilherme Espírito Santo, que jogava futebol e fazia salto em altura, seguido pelo lendário futebolista Fernando Peyroteo.
A nadadora Margarida Salazar Carreira, contemporânea de Maria Gourinho, mencionada na peça em cima como “a bella e insinuante sportswoman portuguesa…”. Hum.
Mais duas “estonteantes” nadadoras portuguesas concorrentes de Maria Gourinho.
Nesta entrevista de Alexandrina Pinto à revista Stadium em 1943, a então campeã de natação portuguesa, ainda hoje vagamente recordada no Futebol Clube do Porto e que também nadou no Feminino Athletic Clube, refere as valiosas lições dadas por Maria Gourinho, que viveu no Porto uns tempos.
O ímpeto notório que Maria Gourinho representou parece que foi seguido de uma pequena travessia do deserto para a natação feminina portuguesa. Em cima, numa peça de Abreu Torres de 1945, a nadadora Rosa Lopes anuncia que vai deixar de nadar em competições. Por esta altura, Maria Gourinho já tinha casado e penso que já tinha tido o filho mais velho, Edmundo. Posteriormente, iria viver com o marido e o filho em Angola, onde nasceriam Tina, Teresa e Manuela. Em 1958, foram viver para Moçambique, primeiro um ano na pacata Inhambane, e depois em Lourenço Marques. Ficariam em Moçambique – corajosamente – até 1977, ou seja, ainda levaram com dois anos do “novo Moçambique”, cortesia da Frente de Libertação de Moçambique. Mas, quiçá já de saco cheio com a “revolução”, fizeram as malas – o que lhes deixaram levar – e foram viver para os arredores de Lisboa, em Portugal.

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