O Senhor Prof. Rui Baptista teve um irmão, Humberto Baptista da Costa, falecido no ano passado, que foi um ilustre e conhecido velejador angolano.
Com a devia vénia, transcreve-se, do blogue “Casa de Angola”, um documento valioso da história da vela angolana e que relata o feito desportivo de Humberto Baptista da Costa, o irmão do “nosso” Prof. Rui Baptista.
Refira-se que Moçambique participou também nesta regata com o “Adamastor”, comandado pelo mais tarde Almirante Rosa Coutinho, que na altura vivia em Lourenço Marques.
Segue-se a crónica, cujo texto original pode ser encontrado aqui:
“Um documento inédito sobre a Regata Cabo-Rio, realizada em Janeiro de 1973, que foi a primeira regata oceânica em que Angola esteve presente com o veleiro Patrícia II, sob o comando de Humberto Baptista da Costa, ilustre sócio da Casa de Angola e membro de várias Direcções. Esta verdadeira epopeia só foi possível devido à determinação e vontade férrea deste angolano notável que tão prematuramente partiu para a sua derradeira regata rumo à eternidade”.
“A vela de pequenas embarcações (snipes, finns e outros), tinha, desde a década de cinquenta, razoável divulgação, em Angola, produzindo alguns campeões nacionais e, até, europeus. Porém, a vela em barcos de maior dimensão (cruisers racers), só na segunda metade dos anos sessenta, começou a despertar.
Com a realização das primeiras regatas Luanda/Lobito, os velejadores mais afoitos ambicionaram por uma representação angolana naquela que era, à época, a mais longa regata do mundo: a CapeTown/Rio de Janeiro (“Cape to Rio Race”). Escolhido um barco (um Pioneer 10) construído em um dos melhores estaleiros, da Europa (E.G.Van de Stadt, de Amesterdão), este chegou a Luanda em princípios de 1972 e logo se iniciaram os treinos intensivos (barco e tripulação), que se prolongaram por cerca de oito meses. A tripulação era composta por seis elementos incluindo o seu skipper, Humberto Baptista da Costa.
O “Patrícia II” (o barco em causa), seria, segundo o entendimento actual, um cruiser race pequeno, cujas medidas obedeciam às mínimas permitidas em regatas transoceânicas. A vontade de se estar presente em tão importante competição, superou insuficiências e receios e, a 13 de Janeiro de 1973, pela vez primeira, uma representação angolana tomava parte em uma regata oceânica: de Cape Town partiu-se à aventura, na tentativa da vela angolana atingir a sua maioridade. A importância que a África do Sul dava ao desporto da vela chegou ao ponto de o Mayor da Cidade de Cape Town instituir o dia da grande largada como feriado municipal: calculou-se que, da Marginal, estariam a assistir cerca de 200.000 pessoas.
Largas centenas de barcos de recreio, de pesca e outros, bem como helicópteros e avionetes, infernizavam as manobras dos cerca de sessenta veleiros, que aguardavam pelo tiro de largada. Emocionante e arrasador ! O “Patrícia”, na primeira semana da regata, chegou a estar em 5º. lugar, mas a brusca mudança de direcção da alta pressão do Atlântico Sul, imobilizou-o durante três longos dias (o mesmo aconteceu ao barco dos E.U.A., que acabou por desistir). Sob um calor tórrido sucederam-se borrascas tropicais, com ventos da ordem dos 50 nós (90 kms./hora). O esforço dos tripulantes só era superado pelo seu entusiasmo.
Após quase trinta dias de viagem, sem escala, o “Patrícia II” terminou em 28º. lugar e, numa pequena regata, dita da amizade, realizada na Baía de Guanabara (em que participaram não só os barcos da Cabo/Rio como inúmeros outros, locais), alcançou o 1º. lugar, da sua classe. Hoje, com 72 anos (nasceu em Luanda, em 1936), Humberto Baptista da Costa, recorda, com saudade, a longa luta encetada para a expansão da vela oceânica, angolana, e lamenta não se ter proporcionado a realização, em 1975 (Centenário da Cidade de S. Paulo de Luanda) da regata Luanda/Rio de Janeiro, cujos trabalhos haviam sido iniciados em Agosto de 1973.
Humberto Baptista da Costa foi membro de várias direcções da Casa de Angola de Portugal, tendo falecido em Julho de 2009, sendo a essa data Vice- Presidente da Mesa da Assembleia Geral desta associação.