Na sua edição de 17 de Novembro, o Notícias em Maputo publicou um texto e uma imagem, informando que o antigo jogador de futebol Tayob Hassan tinha falecido dois dias atrás, algures em Portugal, onde o seu corpo foi sepultado.
Apesar de basicamente não ligar quase nada ao futebol enquanto cresci em Lourenço Marques, vivia numa casa onde o futebol imperava e literalmente um dos castigos que me eram aplicados devido a alguma rebeldia, era ir passar tardes inteiras de sábados e domingos com o Pai Botelho de Melo nos campos de futebol, ele invariavelmente como treinador de uma das equipas locais. Pacientemente, andava às voltas dos campos durante horas até aquilo tudo acabar. E, por essa razão, lembro-me de alguns dos seus jogadores, massagistas etc. Para eles, independentemente de quase tudo o que se passava no mundo à sua volta, e que agora é retrospectivamente e politicamente correcto revisitar usando os chavões habituais dos “ismos” o futebol era uma religião que quase tudo parecia superar.
E, curiosamente, apesar de ter para aí oito anos de idade, lembro-me perfeitamente do Tayob, que para mim era um gigante e, suspeito, um dos melhores jogadores do então Sporting de Lourenço Marques. Que o meu Pai treinou penso que por uma época.
Alguns anos depois, com o corropio da independência e a gradual constatação que os novos senhores do poder intendiam quase tudo quebrar literalmente com a intenção de criar um novo Moçambique e, principalmente, um novo Moçambicano, muitos dos que podiam, saíram de Moçambique, a diferentes velocidades e em diferentes circunstâncias. Foi um processo orgânico e ao mesmo tempo súbito e gradual, e caótico, no sentido em que ninguém sabia de ninguém, um dias as pessoas estavam e no outro tinham-se ido embora para algures (Portugal, Brasil, África do Sul, EUA, Canadá, etc). Os que ficaram em Moçambique, até hoje, consideram-se os “verdadeiros moçambicanos”, enquanto que os outros foram descartados, social e legalmente.
Refiro este passado porque hoje a maioria das pessoas vivas não sabe como foi. E porque, como tantos outros, só quando li a peça do Notícias é que me apercebi do percurso do grande Tayob após 1975. Ainda jogou em Moçambique durante algum tempo após 1975, e depois viajou para Portugal, onde viveu o resto dos seus dias.
Nascido na Zambézia em 14 de Maio de 1946, Tayob acabou por ir para Lourenço Marques nos anos 60, onde jogou no Sporting LM. Em Portugal, segundo o blog A Magia do Futebol, foi jogar no Sporting da Covilhã (que fica nos confins dos confins mas enfim) e que com o compatriota Albanisini e o Chico Chico Santos, ajudaram o Académico de Viseu a subir à Primeira Divisão do futebol português. Ao marcar 16 golos na posição de avançado, Tayob foi o segundo melhor goleador da época de 1977. Jogou depois no Mangualde e no Santacombadense. Aparentemente, jogou até arrumar as botas em 1982.
Faleceu no dia 15 de Novembro de 2022 com 76 anos de idade.
Não sei nada sobre a sua vida pessoal e profissional.
Ficam as boas memórias.