Nota: nesta altura ainda havia (desde o início dos anos 20) em LM duas ligas de futebol, a AF de LM para os brancos e AF Africana para não brancos. Segundo os registos, o Atlético pertencera à segunda até 1952 quando, com o Vasco da Gama, passou para a AFLM. No início dos anos 60, os que mandavam lá na terra acabaram com isso pois parecia mal na fotografia que o regime de repente pintou agora se apressava a mudar, ainda que com alguns requintes de malvadez que foram sendo eliminados (por exemplo a AFA foi integrada na AFLM na terceira divisão mas ao princípio o clube vencedor na 3ª divisão não subia para a 2ª divisão. Era assim.
Eu nasci em 1960 e cresci já sem ver nada disto.
Na imagem há dois brancos (1 e 9). Ver o recorte a seguir às fotos.
No seu interessantíssimo artigo, intitulado “As Políticas Desportivas do Estado Colonial em Moçambique” (SOAS, Janeiro de 2009), Nuno Domingos refere o seguinte:
O jornal O Jogo noticiou hoje a morte de Artur Ferreira, que jogou na equipa de futebol do Clube Ferroviário de Lourenço Marques, penso que estava em Moçambique por causa da tropa.
Digitalizado e retocado a partir da revista comemorativa do 52º aniversário do GDLM, Janeiro de 1973, gentilmente cedida por Suzana Abreu Barros.
Lembro-me do Alberto Matos Santos (Águia de Cobre) quando eu era miúdo, ele fazia um part-time como porteiro do Cinema Gil Vicente ali na Avenida Dom Luis e quando eu tinha 12 anos de idade ele deixava-me entrar no cinema à noite (a pagar bilhete) para ver filmes para maiores de 17 anos (naquela altura a censura em LM era lixada, bastava duas bojardas e um biquini mais ousado e o filme era logo classificado para maiores de 17 anos). Eu esperava à porta do cinema até o filme começar e logo a seguir ele escoltava-me para um canto qualquer. Nunca ninguém reparou ou ligou. Vi grandes filmes. Vantagens de ser do Desportivo….
O Coca-Cola Eusébio da Silva Ferreira (25 de Janeiro de 1942-5 de Janeiro de 2014) e o brasileiro Pelé, ou Edson Arantes do Nascimento (23 de Outubro de 1940- 29 de Dezembro de 2022) foram estrelas do futebol mundial nas décadas de 1960 e 1970.
Imagem de Manuel Inácio Botelho de Melo, retocada. O Nova Aliança era um pequeno e pobre mas histórico clube, sediado no Xipamanine, que o Pai Melo decidiu treinar em 1973, recrutando e treinando jovens jogadores, com o valioso patrocínio de um senhor português que tinha uma cantina no Xipamanine.
Hilário Rosário da Conceição, conhecido como Hilário, é um antigo jogador de futebol que jogava como defesa.
Nasceu em Lourenço Marques em 19 de Junho de 1939, filho de pai português e mãe africana de etnia chope. Hilário cresceu na Mafalala. Nunca conheceu o pai.
Começou a sua carreira no no campeonato da Associação Africana de Futebol, onde representou o Munhuanense “Azar”, equipa do bairro da Munhuana. Seguidamente jogou na filial laurentina do Sporting a partir de 1953, no então campeonato da Associação de Futebol de Lourenço Marques. Hilário ingressou no Sporting de Portugal em 1958.
A sua agressividade, carácter e entrega ao jogo eram tais que, apesar de não utilizar o pé esquerdo, era praticamente inultrapassável. Hilário não pôde, todavia, dar o seu contribução na final da Taça dos Clubes Vencedores de Taças de 1964, pois num lance fortuito, a poucos dias do jogo, ele fracturou a tíbia e o perónio.
Hilário fez 39 jogos pela Seleção Portuguesa. A sua estreia foi em 11 de Novembro de 1959 num jogo amistoso entre França-Portugal.
O grande momento da carreira de Hilário ocorreu no Campeonato do Mundo de 1966. Ele conseguiu destacar-se de tal forma que foi titular indiscutível nos seis jogos e, segundo os especialistas, foi o jogador que teve um desempenho mais regular em toda a campanha.
Despediu-se do futebol na final da Taça de 1973, que o Sporting venceu.
Após ter abandonado a carreira, dedicou-se à função de treinador, tendo exercido esse cargo em vários clubes em Portugal e em Moçambique.
Na sua edição de 17 de Novembro, o Notícias em Maputo publicou um texto e uma imagem, informando que o antigo jogador de futebol Tayob Hassan tinha falecido dois dias atrás, algures em Portugal, onde o seu corpo foi sepultado.
Apesar de basicamente não ligar quase nada ao futebol enquanto cresci em Lourenço Marques, vivia numa casa onde o futebol imperava e literalmente um dos castigos que me eram aplicados devido a alguma rebeldia, era ir passar tardes inteiras de sábados e domingos com o Pai Botelho de Melo nos campos de futebol, ele invariavelmente como treinador de uma das equipas locais. Pacientemente, andava às voltas dos campos durante horas até aquilo tudo acabar. E, por essa razão, lembro-me de alguns dos seus jogadores, massagistas etc. Para eles, independentemente de quase tudo o que se passava no mundo à sua volta, e que agora é retrospectivamente e politicamente correcto revisitar usando os chavões habituais dos “ismos” o futebol era uma religião que quase tudo parecia superar.
E, curiosamente, apesar de ter para aí oito anos de idade, lembro-me perfeitamente do Tayob, que para mim era um gigante e, suspeito, um dos melhores jogadores do então Sporting de Lourenço Marques. Que o meu Pai treinou penso que por uma época.
Alguns anos depois, com o corropio da independência e a gradual constatação que os novos senhores do poder intendiam quase tudo quebrar literalmente com a intenção de criar um novo Moçambique e, principalmente, um novo Moçambicano, muitos dos que podiam, saíram de Moçambique, a diferentes velocidades e em diferentes circunstâncias. Foi um processo orgânico e ao mesmo tempo súbito e gradual, e caótico, no sentido em que ninguém sabia de ninguém, um dias as pessoas estavam e no outro tinham-se ido embora para algures (Portugal, Brasil, África do Sul, EUA, Canadá, etc). Os que ficaram em Moçambique, até hoje, consideram-se os “verdadeiros moçambicanos”, enquanto que os outros foram descartados, social e legalmente.
Refiro este passado porque hoje a maioria das pessoas vivas não sabe como foi. E porque, como tantos outros, só quando li a peça do Notícias é que me apercebi do percurso do grande Tayob após 1975. Ainda jogou em Moçambique durante algum tempo após 1975, e depois viajou para Portugal, onde viveu o resto dos seus dias.
Nascido na Zambézia em 14 de Maio de 1946, Tayob acabou por ir para Lourenço Marques nos anos 60, onde jogou no Sporting LM. Em Portugal, segundo o blog A Magia do Futebol, foi jogar no Sporting da Covilhã (que fica nos confins dos confins mas enfim) e que com o compatriota Albanisini e o Chico Chico Santos, ajudaram o Académico de Viseu a subir à Primeira Divisão do futebol português. Ao marcar 16 golos na posição de avançado, Tayob foi o segundo melhor goleador da época de 1977. Jogou depois no Mangualde e no Santacombadense. Aparentemente, jogou até arrumar as botas em 1982.
Faleceu no dia 15 de Novembro de 2022 com 76 anos de idade.
Não sei nada sobre a sua vida pessoal e profissional.