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Fevereiro 10, 2011

UMA NOTA DO PROF RUI BAPTISTA SOBRE AUGUSTO TITO DE MORAIS

Filed under: 2010 anos, Comentário, OUTROS, Rui Baptista — ABM @ 12:35 pm

Augusto Tito de Morais

Creio que, algo desmerecidamente, a pessoa e obra do Dr. Augusto Tito de Morais “sofre” alguma desatenção por contraste com a atenção dada ao seu irmão Manuel, este com um distinto percurso profissional mas principalmente político, que inclusive foi alvo de exéquias no centenário do seu nascimento.

E foi a propósito dessas exéquias que o Sr. Professor Rui Baptista escreveu a crónica que segue, a qual foi primeiro publicada no excelente blogue  De Rerum Natura.

PESOS E HALTERES: EM MEMÓRIA DE AUGUSTO TITO DE MORAIS

Deparei-me hoje com um blogue de homenagem a Manuel Tito de Morais, um dos fundadores do Partido Socialista, no 100º aniversário do seu nascimento. Nele, Pedro Tito de Morais recorda, entre outros familiares, o seu tio Augusto Tito de Morais, também já falecido, professor catedrático do Instituto de Medicina Tropical, médico da Organização Mundial de Saúde que, nessa qualidade, viajou pelas sete partidas do mundo.

A páginas tantas, escreve que ele “aos 20/30 anos foi trapezista e tinha muito orgulho nisso”. Pela minha parte, julgo de interesse acrescentar ao seu currículo desportivo a sua qualidade de dedicado praticante de pesos e halteres, como escrevi na dedicatória de um dos meus livros, publicado em 1972, Os pesos e halteres, a função cardiopulmonar e o doutor Cooper.

Reza essa dedicatória:

Dedico este livro a Augusto Tito de Morais, grande entusiasta dos pesos e halteres, companheiro das lides desportivas, médico virado para os problemas da investigação, no Instituto de Investigação Médica de Moçambique, e, sobretudo, querido Amigo.

Um objectivo comum nos unia: a divulgação da modalidade, como meio seguro em preservar a saúde, e a sua intransigente defesa. Daí, o despontar de uma indefectível amizade.

Ao serviço dos ‘ferros’ pusemos os nossos conhecimentos sobre o corpo humano, transmitindo-os aos outros, sem jactância, por conferências proferidas na Associação dos Naturais de Moçambique, e nos debates que se lhes seguiam, sempre calorosos, norteados no amor à Cultura Física e na procura de um mesmo fim, através de proposições diferenciadas ou caminhos divergentes, qual deles o mais apressado na desmistificação dos sobranceiros contraditores dos pesos e halteres. [De entre eles, o supracitado doutor Kenneth Cooper, autor do famoso Teste de Cooper para avaliação da capacidade aeróbica].

Abandonou, há anos, o Dr. Tito de Morais, o campo de batalha moçambicano, no alcance de novos horizontes: médico da Organização Mundial de Saúde, dedica-se, nos dias de hoje, ao seu semelhante nos mais recônditos pontos globo. Resto eu, que aqui de Moçambique, lhe envio “sem saber se o recebe ou não” o amplexo forte do camarada de armas que prossegue a luta na lembrança de antigas escaramuças que estão longe de ter conduzido à vitória final.

A verdade tem o seu preço, tanto mais elevado quanto menor o número daqueles que a procuram.

Na altura, enviei-lhe o meu livro. Encontrava-se então Augusto Tito de Morais em missão no Cambodja. Passados meses, tive a confirmação da sua recepção por carta do destinatário.

Anos mais tarde (2001), enviei também o livro ao médico fisiatra Prof. Dr. José Maria Santarém, fundador do Centro de Estudos em Ciências da Actividade Física e de Geriatria da Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo, Brasil. Passados pouco tempo recebi o seguinte mail:

“Com muita alegria recebi o seu livro e a sua carta. Nossos ideais são comuns, e as nossas dificuldades históricas também. Felizmente hoje as evidências nos apoiam e somos ouvidos, mas é sempre emocionante lembrar os tempos em que éramos quase ignorados. Gostei muito do seu texto que, naturalmente, deve ser lido com a lembrança da situação e do conhecimento de então. Meu desejo é que um dia nos possamos encontrar e rir bastante com as dificuldades do passado. Um fraterno abraço. Santarem”.

Julgo que Augusto Tito de Morais teria gostado de saber que a nossa constante e entusiástica campanha em defesa dos vilipendiados “ferros” não foi em vão.

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