Dezembro 23, 2011
Dezembro 20, 2011
Dezembro 4, 2011
UMA NOTA DE ABM SOBRE O RACISMO NO DESPORTO MOÇAMBICANO NO TEMPO COLONIAL
Copio para aqui, com alterações menores, um comentário que fiz em resposta ao comentário do nosso amigo da caneta René Boezaard (holandês, não conheceu Moçambique antes da Independência mas que conhece muito bem a realidade desportiva moçambicana recente) de que cada um parecia ter a sua verdade na questão de haver racismo em relação ao Eusébio no Sporting Clube de Lourenço Marques por ele (Eusébio) ser preto num clube de brancos (pois essa é a questão em análise, não o racismo em geral):
“Não sei René. As coisas eram como eram no tempo colonial e o facto é que tipicamente as poucas cidades moçambicanas eram esmagadoramente habitadas por brancos. Logo, a maioria dos clubes situavam-se nas cidades, enquanto que as perifierias eram esmagadoramente habitadas pela população de raça negra.
Em termos de sócios, os clubes reflectiam essa realidade (falo dos anos 60 e 70 – nasci em 1960) mas NÃO (e aí concordo com o Sr. Braga Borges) em termos de atletas e muito menos de atletas de raça negra de talento no futebol, que na minha opinião, podiam ir para onde bem quisessem. Sim, os atletas negros (as suas famílias) tipicamente eram muito mais pobres pelas razões sócio-económicas conhecidas. Mas para teres ideia, eu, que sou branquinho da Silva e que sempre vivi na Polana, nadava no Desportivo, e sempre só tive um fato de banho. A minha roupa tinha duas mudas, um par de sapatilhas e um de sapatos.
A ideia de que os brancos viviam em Moçambique num mar de luxúria e os negros num mar de miséria é extremamente relativa e deve ser contextualizada, o que, por razões ideológicas e de perspectiva, tende a ser descurado. A maior parte dos brancos que iam viver para Moçambique iam com uma mão à frente e outra atrás e a riqueza que acumulavam era acumulada através do trabalho. Até quase aos anos 1970 não havia uma universidade em Moçambique – nem para brancos nem para pretos.
Adicionalmente, tirando o futebol, a maior parte dos desportos praticados eram praticados por brancos, por razões mais culturais dos brancos de Moçambique que outra qualquer. Em Moçambique praticava-se muito mais desporto e fazia muito mais parte da cultura local e da rotina das pessoas que em Portugal, mesmo ainda hoje. A população negra de Moçambique nem por isso praticava desporto, apesar de nos anos 60 a situação estar a mudar muito rapidamente. Por exemplo, no Distrito de Lourenço Marques em finais dos anos 60 o desporto já era uma parte importante do currículo escolar e estava dotada com infra-estruturas desportivas, o que em Portugal não acontecia.
Tendo dito isto, creio que, claro que, na estrutura social e de poder os negros moçambicanos não tinham quase nenhum voto na matéria. Eram cidadãos de 2ª e 3ª classe e frequentemente desrespeitados e abusados. O racismo era endémico e inerente em relação a tudo o que se fazia. Eu creio que isso se estava a alterar e alteraria mais até ao final dos anos 70, tivesse o arranjinho colonial perdurado mais uns tempos até a uma independência que não havia dúvida havia de acontecer e teria de acontecer. Mas tudo acabou com um enorme “bang” em 1974, sob a égide dos senhores Comité Central da Frelimo, que tinham ideias peregrinas sobre o que fazer.
Voltando aos clubes, lembro-me de, por exemplo, no princípio dos anos 70, o Desportivo, o clube onde eu cresci, ter feito esforços para recrutar mais sócios, não descurando os sócios de todas as proveniências raciais e sócio-económicas, que era algo que especificamente me lembro. Se não me engano as quotas nessa altura eram uns 100 escudos por ano, o que era praticamente de borla.
Não sei como era no Sporting em termos de sócios. Mas imagino que havia clubes (Clube de Pesca, Clube Marítimo, Clube Militar, Clube de Golfe da Polana, Associação dos Antigos Estudantes de Coimbra, Grémio) não houvesse muitos sócios negros. Mesmo para os padrões económicos mais elevados dos brancos, esses eram clubes caros e de elite. Mas esses clubes especializavam-se em poucos desportos caros e tinham um cariz social muito mais acentuado que os restantes.
Mas mesmo aí duvido que o critério de acesso fosse o da cor de pele. Acho que era mais a côr do dinheiro e as afinidades dos sócios. Num contexto de uma sociedade racialmente empolada, em que como, uma vez referiu o meu caro Dr. Mário Machungo, no princípio dos anos 70, um negro que quisesse alugar um apartamento na Polana…simplesmente não acontecia.
Ou, como uma vez me relatou serenamente o Sr. Eurico Perdigão, que me treinou no Desportivo, quando uma vez levou o seu mainato (negro) ao Hospital Central Miguel Bombarda às urgências uma noite já não me lembro bem porquê, ele quase que teve que dar um murro em quem o atendeu pois queriam chutar o jovem nem sei bem para onde porque ele era preto (para que conste, ele foi atendido e tratado ali, mas o Sr. Perdigão referiu ter a certeza de que se ele – um branco – não tivesse ido com ele ao hospital, e insistido, isso nunca teria acontecido.
E esta é a “minha” modesta verdade.”
Quanto à natação, que ambos conhecemos, e que pratiquei no Desportivo até 1975, quando fui estudar para Coimbra, sim, quase não havia nenhum nadador negro em LM nos anos 60 e 70 – mas isso era necessariamente “racismo”? explica lá isso. Afinal, o que é “racismo”? ainda hoje se alguém for a Maputo, a natação é um desporto urbano e de elite. E no tempo colonial a elite era esmagadoramente branca.
Para além de que, por razões que nunca estudei, em geral e em todo o mundo as pessoas de raça negra, que limpam o sebo a tudo e todos em atletismo, basquet e muitos outros desportos, são notoriamente omissos dos livros de recordes em natação. Mas eu acho que é uma questão de tempo e de oportunidade e eles e elas vão aparecer.
Como acima refiro, os padrões de prática desportiva em Moçambique reflectiam os padrões sócio-económicos que sim, reflectiam uma estrutura inerentemente racista. Mas não por si só e em absoluto. No resto de Moçambique hoje em dia ainda não se pratica tanto a natação, em boa parte simplesmente porque as piscinas que há são as que se fizeram há 50-60 anos, estão num estado duvidável e por maioria de razão continuam situadas no meio das cidades.
Creio que isso acontece em parte também porque é imensamente mais barato jogar à bola ou correr do que jogar ténis, correr carros, nadar ou jogar golfe.
No caso acima abordado, estamos ainda por cima a falar de descriminação contra o Eusébio (entrevista à Ùnica, Novembro de 2011), um expoente de talento que marcou o mundo e cujo valor já em 1958 quem estava nos meandros do futebol em Lourenço Marques reconhecia. A ideia de que ele terá sido maltratado ou menosprezado por ser preto (saliento que ele é mulato, o pai dele era branco de Angola e morreu em Moçambique quando ele era miúdo), ainda por cima no futebol, cujas putativas barreiras raciais já haviam sido brilhantemente escancaradas por muitos outros antes dele, parece-me ser um pouco peregrina. Que havia (e há, não te enganes) racismo nem é tanto a questão. Afinal, quase que aposto que em 1959 o Sporting de Lourenço Marques não devia ter um sócio preto. Mas o Eusébio ter sido prejudicado por isso?
Eu duvido.
Mas ele lá sabe.
ALEXANDRE FRANCO E O RACISMO NO DESPORTO EM MOÇAMBIQUE NO TEMPO COLONIAL
As declarações de Eusébio na entrevista concedida à revista Única iniciaram algum debate em torno da questão do racismo em Moçambique e no desporto de Moçambique antes da Independência. De alguma forma, tento recolher esses testemunhos, que poderão ser do interesse dos exmos. Leitores e para futura referência.
Em baixo, na primeira pessoa, o comentário de Alexandre Franco, um dos grandes do desporto moçambicano pré-independência, na modalidade de basquet.
Alexandre Franco hoje reside na grande cidade de Toronto, no Canadá, onde gere o Millennium-Post, uma publicação em língua portuguesa.
Mas nunca esqueceu Moçambique, tendo estado em Maputo recentemente de visita.
O seu comentário:
Conheço bem o Alberto Rodrigues e sei que ele também me conhece. Respeito as suas palavras e a verdade é que ele é um bom bocado mais velho do que eu. Diria mesmo que cerca de 10 anos.
Contudo, tudo quanto ele diz, e eu nasci em Moçambique e sou de raça branca, nem no Desportivo, nem no Sporting, nem no “seu” (do Alberto) Ferroviário, pois ele sempre foi mais conhecido como jogador de basquetebol do Ferroviário e de futebol, do Indo-Português, do que como treinador, que também foi, do Desportivo e do Malhangalene, condiz com a minha vivência, desde os meus cinco anos de idade, primeiro no Ferroviário, nos tempos do Lenine, do Luís Pina, do Adão “Linda”, do Desportivo do Frederico Morais, do Becas, do Carlos Alemão do Chico Martins, do Sporting do Octávio Bagueiro, do Branquinho, do Bebé, do Hélder Silva e com estes nomes ele bem sabe que estou a referir-me aos meus tempos de miúdo, ou seja dos meus cinco anos. Mas vivi em Moçambique até aos meus 31 anos altura em que saí como treinador da equipa principal de basquetebol do Sporting de Lourenço Marques e adjunto do Alberto Correia Mendes na Seleção Nacional de Moçambique que disputou os Jogos da Independência de Moçambique, para já não falar no Mário, no Nelson, no Vítor Morgado, no Sérgio Carvalho, no Luís Almeida, no Simango, sem esquecer os putos que levei à primeira categoria, casos do Artur Meirim, do Manuel Santiago, do Hélder Silva (filho), do Mário Martins, do Marques, do Mário Lopes e de tantos outros, numa variedade enorme de raças, desde os 5 até aos 31 anos de idade… nunca, mas mesmo nunca, deixámos de privar com pessoas de todas as cores e de todos os credos. O Alberto, indo-português, poderá ter passado por uma ou outra situação menos agradável, mas não julgo que isso lhe dê o direito de sair em defesa de uma série de asneiras que o Eusébio está farto de dizer, rejeitando reconhecer tudo quanto por ele foi feito. O que ele ficou a dever ao Vigorosa (que também não era branco), ao Sr. José Mateus, que era branco (e que tantas notas encarnadas – na altura eram notas de cem escudos, que metia no bolso do Eusébio – eu vi com os meus próprios olhos – por cada golo que ele marcava – a não ser que era este tipo de racismo que o Eusébio se referia, o de ser um branco a dar dinheiro a um preto?!), ao Fernando Costa, que também era branco e até alegando que o Sr. Elísio Pereira se fazia passar por branco, o que eu, que convivi com ele diariamente no Campo João da Silva Pereira, nunca percebi, porque a cor da sua pele era o que menos nos incomodava. Um puto de raça negra que nem se aproximava de nós no Continental, mas que era convidado a sentar-se connosco para comer uma torrada e beber um café com leite, que o 21 (ainda há muito gente que se lembra do 21, que era o nosso habitual empregado de mesa). Era este o racismo a que o Eusébio se referiu???
Ainda recentemente estive em Moçambique e fui maravilhosamente recebido por gente dos meus tempos de todas as cores e credos, tal como já acontecia naqueles que foram os melhores anos da minha vida, entre gentes de todas as cores e feitios.
Continuo a gritar a renegação do Eusébio ao Sporting Clube de Lourenço Marques por tudo e mais alguma coisa e até sugiro que leiam a edição do meu jornal http://www.postmilenio.com do próximo dia 16 de Dezembro, edição especial de Natal, onde vou colocar as “inverdades” de um tal “Pantera Negra” bem a claro.
E atenção, já lhe disse isto, pessoalmente. Ele (o Eusébio) aprendeu a odiar o Sporting. Até aí, tudo bem. Há muitos benfiquistas que lêem pela mesma cartilha. Agora dizer as asneiras que diz quando afirma que nem se lembra de ter jogado com a camisola do Sporting (o que me disse a mim) e de que o Sporting era um clube racista… Por Favor!!!
Aqui em Toronto, onde resido há muitos anos, encontrei um dia o Eusébio com o “seu” Presidente Luis Filipe Vieira. Ele (o Eusébio) chamou-me e disse-me que queria apresentar-me o “seu” Presidente. Muito bem. “O meu nome é Alexandre Franco, tenho muito prazer”, o que foi seguido das seguintes palavras; “Ah, você é o amigo do Eusébio que é do Sporting!”. E eu respondi, “Do mesmo Sporting que foi o Eusébio, o Sporting Clube de Lourenço Marques!” Meu Deus, o que fui dizer. “O quê? Já nem me lembro disso!” Que pena, que pena… e eu que a partir daí disse para comigo mesmo: “Eis as palavras tristes do meu Ex-amigo Eusébio da Mafalala.”
Não posso omitir aqui os nomes de alguns dos meus melhores jogadores, como também foram os casos de Luís Dionísio, do Eustácio Dias, João Donato, do Tam Ling, e na Seleção de Moçambique, do Sing, do Costa, do Araújo, do João Domingues, e ainda do Vítor Agostinho, do Orlando Noronha, do Carlos Rocha, do Mahlon Sanders, do João Silva, do João Ferreira, que foram meus jogadores no Benfica de Lourenço Marques (secção de Basquetebol que foi formada por mim, a pedido dos meus amigos Luís Branco – da Wagons Lits e Francisco Machado; e ainda de nomes como os do Beto Correia Mendes, Carlos Neves, Luis Neves, José Joia e Carlos Joia, Rendas Pereira, e tantos outros que de momento não me lembro.
FRANCISCO VELASCO COMENTA SOBRE O RACISMO NO DESPORTO EM MOÇAMBIQUE NO TEMPO COLONIAL
Em baixo, o comentário do grande campeão de hóquei Francisco Velasco, transcrito de outro local neste blogue (o comentário de Alberto Dias, em relação a uma entrevista de Eusébio à Revista Única no início de Novembro de 2011 e à reacção de Braga Borges).
Parte do que está aqui dito [comentário de Alberto Dias, ver AQUI] possui laivos de verdade, verificando-se contudo uma grande confusão no respeitante a datas.
Antes de mais um abraço ao Alberto Rodrigues, que treinou as minhas primas Abrilete e Maria da Luz e talvez tenha jogado com o meu primo Leonel. Cruzávamos-nos no Clube e envio-te as minhas saudações desportivas.
Colonialismo e Racismo são as faces da mesma moeda. Ambos são dinâmicos, isto é, transformam-se com o decorrer dos anos, diluindo-se ou tornando-se virulentos e basta uma década para verificarem modificações substanciais. Veja-se que hoje, uma grande potência mundial passou, no espaço de 10 anos, de uma nação de liberdades constitucionais adquiridas, para uma em que as mesmas já começaram a ser definitivamente ignoradas ou destruídas, mas esse é outro assunto…
Neste caso do Eusébio, temos de circunscrevermo-nos aos anos em causa: 1959, 1960 em que ele comprovadamente jogou em júniores nesses anos e em séniores em 1961. As fotos de Braga Borges demonstram isso e que não havia o tal apregoado “racismo”. Ponto final.
Reportas-te, Alberto, a 1951. Esses foram tempos diferentes e anteriores aos em causa, e se formos por aí, mais uma década atrás, vamos dar com filas de pretos, acorrentados, que eu via passar à frente da minha porta, quando acordava de manhã cedo para ir para a escola. Caminhavam para trabalho forçado. E se recuares uns tempos mais, vê-los-íamos a serem “caçados” para serem enviados e leiloados em praças espalhadas por certas nações esclavagistas de vários continentes.
Até 1954, o Clube Ferroviário possuía um elenco de hoquistas brancos, se descontarmos o companheiro Labistour. Dois anos depois, 1956, quando assumi o cargo de treinador do CFLM, integrei na equipa atletas não brancos, provenientes das Reservas e Júniores. Tanto quanto pude testemunhar, o elitismo e também o racismo esfumaram-se por esta altura, com a naturalidade do passar de anos de uma sociedade colonialista a braços com a sua própria dinâmica transformadora. Em 1958 não se podia falar de racismo nos clubes. Presumo eu que as condições económicas e o estado psicológico dos pretos, continuamente minimizados e inferiorizados, forçavam-nos à não prática desportiva nos clubes da cidade, com excepção da bola que era praticado por toda a cidade em espaços devolutos que iam capinando para conseguirem uma espécie de campos de futebol.
Quanto ao serviço militar, quero recordar aqui que a ordem colonial estipulava que só brancos e pretos é que prestariam serviço nas forças armadas. Estava excluídos todos os outros. Sucede porém, Alberto, que dois anos antes de teres sido dispensado por excesso de contingente, também eu o fui apesar de ter sido aprovado na inspecção médica. Como me conheciam do desporto só me tiraram o peso e a altura e carimbaram imediatamente a minha integração. FIZERAM BORRADA pois isto tudo sucede quando os “satiaghras” criavam problemas em Dadra e Nagar Aveli, e o Antoninho, o tal dos plainites, deu ordem às estruturas militares para incorporarem todos, mestiços, indianos e chineses e estes todos seriam aquartelados à parte, e não iam para Boane.
O problema deles, em relação a mim, é que, sendo branco, eu iria ficar num aquartelamento de não brancos e isso fez-lhe cócegas na cabecinha e eliminaram-me por excesso de contingente, não se apercebendo que quando eu fiz fila para o exame médico, todos atrás e à frente eram meus companheiros de escola e de folguedos desde tenra idade, onde eu me sentia bem pois nunca usei óculos de cor. Reagi, e o General Raul Martinho, comandante militar, teve de me enfrentar, mas esta é uma história que contarei noutro local.
Não sei porque tu, caro Alberto, foste dispensado dois anos depois de mim, o teu caso talvez fosse diferente, apesar de sermos conterrâneos, natos no mesmo Estado da índia. Ou se calhar seria mesmo excesso de contingente… Olha que o Amadeu Bouçós e o Alberto Moreira não escaparam, tiveram férias em Boane, donde se ausentavam frequentemente, largando armas e bagagens, para ir representar a Selecção Nacional… Acho que nem sequer aprenderam a dar tiros! (risos).
Um grande abraço, amigo Alberto Rodrigues, felicitando-te pela tua carreira dedicada ao Basquetebol.
Posto isto, reitero que «o pontapé do Eusébio falhou o alvo, o que era raro, e bola lá se perdeu por cima da bancada, para fora do Estádio em direcção ao esquecimento onde deverá permanecer», como já tive ocasião de escrever [aqui] no blogue The Delagoa Bay Company.
Dezembro 3, 2011
O GRANDE ALBERTO DIAS FALA SOBRE O RACISMO NO DESPORTO EM MOÇAMBIQUE NO SEU TEMPO
Muito grato ao Rogério Carreira, que enviou a nota com o comentário de Alberto Dias e ainda mais as fotos, rapinadas do seu grande sítio Roger Tutinegra.
A propósito ainda da entrevista que Eusébio deu à revista Única, e que já mereceu um comentário de Braga Borges (ambos reproduzidos na totalidade nesta casa), em baixo o precioso testemunho de Alberto Dias, de quem me lembro quando treinador no Desportivo.
Para encaixar” aqui, fiz uma edição menor, sem tocar no que de substantivo é dito:
Na segunda-feira passada ao […] ouvir o Dr. Dias Ferreira afirmar que “os racistas são aqueles que dizem que os outros é que são racista” é uma forma pedante de tornar as vítimas em réus, manifestou uma completa ignorância da vivência nas ex-colónias portuguesas.
Tenho 75 anos de idade, poucos anos mais que o Eusébio.
Joguei contra ele nos primeiros jogos que fez pelo Sporting Clube de L.M. em seniores.
Eu jogava modestamente o futebol no também modesto Grupo Desportivo Indo-Português, pois sou de ascendência do antigo Estado da Índia, onde também inicialmente havia um certo separatismo que com o tempo se foi esfumando.
Em 1951, o Indo-Português acabou com a secção de basquetebol, e o clube para onde eu gostaria de ter ido jogar seria para o Sporting de L.M. mas era como Eusébio disse, o Sporting nessa época era efectivamente um clube que só aceitava brancos nas suas hostes, havia uma excepção que era um misto que passava por branco de nome Elísio Pereira. Era efectivamente conhecido também pelo clube dos polícias e só podia ir para a polícia quem tinha feito o serviço militar – que estava vedado aos não brancos, salvo alguns que passavam como tal. Eu fui à inspecção militar e fui dispensado por excesso de contingente, claro que tudo isto antes de ter começado a guerra colonial.
Os da minha geração lembram-se bem que era efectivamente assim.
Com o aparecimento do Eusébio e outros as coisas começaram a modificar-se bastante e as mentalidades a alterar-se um bocado.
A título de curiosidade, informo também que havia um outro clube que tinha o mesmo procedimento que era o Malhangalene, clube do bairro de mesmo nome que era administrado por indivíduos idos de Portugal, claro que depois modificaram os procedimentos.
O grande rival do Sporting era o Grupo Desportivo de L.M. que foi filial do Benfica, e os curiosos que vejam as fotos antigas destes dois clubes e onde militavam os não brancos numa amálgama de cores.
Estou a escrever esta mensagem, porque me disseram que um familiar do Dr. Mário Soares, parece que de nome Barroso, que decerto também não conheceu as realidade das ex-colónias, que disse num jornal que não é verdade o que o Eusébio disse.
Atenciosamente,
Alberto Carmo Rodrigues
(fim)
Novembro 28, 2011
1º ALMOÇO DOS NADADORES DA ASSOCIAÇÃO DOS VELHOS COLONOS DE MOÇAMBIQUE, NOV. 2011
Muito grato à Célia Quartin, que encaminhou as fotografias do repasto e convívio em baixo, que retratam momentos do 1º Almoço dos Nadadores da Associação dos Velhos Colonos de Moçambique, grande equipa que produziu muitos campeões de Moçambique e de Portugal.
O encontro ocorreu no Restaurante Salamandra em Cascais, num dia lindo, com um sol esplendoroso e uma vista fantástica para a praia e para o mar.
Em baixo, a Célia usou os nomes de solteira das meninas para melhor identificação. Os “penetras” do Desportivo e Sporting estavam presentes porque tiveram o bom gosto de escolher caras-metade dos Velhos Colonos…..
Novembro 23, 2011
MAIS FOTOS DO ALMOÇO ANUAL DOS NADADORES DE MOÇAMBIQUE, NOVEMBRO DE 2011
A reportagem do memorável almoço anual dos nadadores e treinadores de Moçambique, realizado no passado sábado e em que se homenageou a Dulce Gouveia. Desta vez feita tiradas pelo Jaime Santos e a Helena Chaves.
Muito obrigado.
Dada a quantidade, utilizo um novo esquema de apresentação das fotos que esta geringonça disponibilizou agora. E que está em fase de testes.
As fotos enviadas pelo Jaime Santos (as do Jaime contêm a referência “Olympus”) e pela Helena:
….e que também podem ser vistas assim:
Novembro 22, 2011
ALMOÇO ANUAL DOS ANTIGOS SÓCIOS E ATLETAS DO GRUPO DESPORTIVO LOURENÇO MARQUES, OUTUBRO DE 2011
Muito Grato ao Carlos Oliveira pela disponibilização das fotografias que se seguem.
Para ver qualquer das fotografias em tamanho maior, prima na imagem duas vezes com o rato do seu computador e divirta-se.
ANTIGOS NADADORES E TREINADORES DE MOÇAMBIQUE E FEDERAÇÃO PORTUGUESA DE NATAÇÃO HOMENAGEIAM DULCE GOUVEIA, 19 DE OUTUBRO DE 2011
Muito grato ao Carlos Oliveira, que disponibilizou as fotografias que se encontram em baixo.
A Dulce Gouveia ficou de me ajudar com as legendas mas decidiu ir ao banco e deixou-me pendurado. Completarei as legendas mas tarde.
Para ver as fotos em baixo com o tamanho máximo, prima na imagem que quiser ver duas vezes com o rato do seu computador.
Novembro 11, 2011
Reencontro de Gerações do Desportivo de Maputo
O texto que se segue é um artigo publicado no Notícias, de Maputo no dia 8 de Novembro.
Novembro 10, 2011
Outubro 31, 2011
EVOCAÇÃO DA SOCIEDADE DE ESTUDOS DE MOÇAMBIQUE, PELO PROF. RUI BAPTISTA
(Texto da autoria do Sr. Prof. Rui Baptista)
“A história é uma mediação entre o passado e o presente num círculo hermenêutico” (Paul Ricoeur, 1913-2005).
Escrevo hoje sobre um livro, intitulado “Livro de Ouro do Mundo Português – Moçambique” (s/d), da autoria da jornalista Maria Helena Bramão, que mãos amigas fizeram chegar ao meu conhecimento e em que, a páginas tantas (pp. 22 e 23) , é evocada a Sociedade de Estudos de Moçambique, “ex libris” científico, literário e cultural de Moçambique, anterior à criação dos respectivos Estudos Gerais Universitários (1962) e depois em futura e frutuosa parceria. A esta Sociedade (julgo que extinta depois de 1975) ligam-me recordações, quase diria umbilicais, por aí ter proferido duas conferências, (“Educação Físíca – Ciência ao Serviço da Saúde Pública” e “Os Pesos e Halteres, a Função Cardiopulmonar e o Doutor Cooper”) , respectivamente, nos anos de 1972 e 1973, vindo nela a ser eleito para os cargos de vice-presidente da Secção de Ciências e bibliotecário (1974) e de presidente da Secção de Ciências e 1.º secretário (1975), tendo, assim, entrado a Educação Física pela porta principal nesta veneranda casa “das coisas do espírito”.
Escreveu nesse livro a referida jornalista um elucidativo texto, subtitulado “Sociedade de Estudos de Moçambique – uma instituição cultural pioneira”, que transcrevo abaixo na íntegra com o esclarecimento de se reportar, apenas, à vida da Sociedade de Estudos de Moçambique até meados da década de 60:
“A Sociedade de Estudos de Moçambique foi instituída em 6 de Setembro de 1930, data em que foram superiormente aprovados os seus Estatutos, publicados pela Portaria n.° 1185, daquela data.
Resultou de um movimento inspirado pelo Engenheiro de Minas, António Joaquim de Freitas, que veio a ser o seu Sócio Fundador n.° 1. Na Circular-Convite que dirigiu aos intelectuais de Moçambique, a propor a fundação da Sociedade, mencionava António Joaquim de Freitas, ser um dos objectivos «estabelecer um convívio intelectual necessário às pessoas que vivem pelo cérebro».
Os Estatutos aprovados definiram como objectivos da Sociedade de Estudos, contribuir para o estudo e valorização económica de Moçambique; e contribuir para o desenvolvimento intelectual, moral e físico dos seus habitantes em geral, e, em especial, dos seus associados.
A António Joaquim de Freitas juntaram-se 101 Sócios Fundadores. E depois, desde 1930, muitos outros, que com esforço, dedicação e inteligência têm vindo a realizar com persistência os objectivos da Sociedade.
Foi o primeiro Presidente da Direcção da Sociedade de Estudos o Coronel Eduardo Augusto da Azambuja Martins. Sucederam-lhe o Eng.° Joaquim Jardim Granger (1932-34); o Coronel João José Soares Zilhão (1935 e 1940-41); o Eng.° Mário José Ferreira Mendes (1936-38 e 1946-49); o Comte. José Cardoso (1939); o Eng.° António Joaquim Freitas (1942-45); o Dr. António Esquivei (1950-60); o Contra-Almirante João Moreira Rato (1961-62); e o Prof. Eng.° Manuel Gomes Guerreiro (1963). O actual Presidente é o Eng.° João Fernandes Delgado.
Foram nomeados Sócios Beneméritos, pelos relevantes serviços prestados à Sociedade de Estudos, o Contra-Almirante Manuel Maria Sarmento Rodrigues, a Fundação Calouste Gulbenkian e a Câmara Municipal de Lourenço Marques.
A Sociedade de Estudos foi agraciada com o grau de Oficial da Ordem Militar de Sant’Iago da Espada (1956), grau de Oficial da Ordem de Instrução Pública (1960), Medalha de Ouro de Serviços Distintos da cidade de Lourenço Marques (1960) e Palma de Ouro da Academia das Ciências de Lisboa (1960).
Dentro da acção desenvolvida desde 1930, a Sociedade de Estudos tem promovido a realização de estudos, cursos, lições, conferências, congressos, exposições e sessões de cinema.
Desde 1931 que se publica o «Boletim da Sociedade de Estudos de Moçambique», que é presentemente trimestral.
Tem editado outras publicações entre as quais se destaca «A Cartografia Antiga da África Central e a Travessia entre Angola e Moçambique, «1500-1860» da autoria do ilustre historiógrafo Comte. Avelino Teixeira da Mota, que a dedicou ao Contra-Almirante Sarmento Rodrigues e a ofereceu à Província de Moçambique. A edição foi custeada por subsídio especial concedido pelo Governo-Geral de Moçambique, tendo-se feito a versão inglesa.
As publicações da Sociedade de Estudos são permutadas com as de numerosas instituições nacionais e estrangeiras em todo o Mundo. Foi assim organizada progressivamente uma Biblioteca de carácter enciclopédico, que conta cerca de 25 000 volumes; e uma biblioteca juvenil, com perto de 1500 volumes, convenientemente escolhidos.
O actual Presidente é o Eng.° João Fernandes Delgado. A Sociedade de Estudos tem-se feito representar em diversos congressos e reuniões de carácter cultural, no país e no estrangeiro. Desde 1934 que participa nos congressos anuais da Associação Sul-Africana para o Progresso da Ciência, tendo colaborado na Organização dos Congressos de 1948 e de 1958, que se realizaram em Lourenço Marques.
Já nos Estatutos aprovados em 1930 se previa a necessidade de se conseguir ‘uma sede suficientemente ampla, cujos meios de trabalho e conforto irá sucessivamente aumentando, por forma a tornar a sua frequência cada vez mais agradável’.
Depois de grandes esforços, foi finalmente decidia a construção do novo Edifício-Sede em 1962, sendo Presidente da Direcção o Contra-Almirante João Moreira Rato, que desenvolveu valiosa acção para tornar viável a realização. Os encargos foram suportados por subsídio, concedidos pelo Governador-Geral de Moçambique, Contra-Almirante Sarmento Rodrigues, pela Fundação Calouste Gulbenkian, por reservas criadas, por quotização suplementar por parte dos sócios, e por um empréstimo a amortizar anualmente.
O edifício, segundo projecto do arquitecto Marcos Guedes e o Eng.° Carlos Pó, foi executado em 1963, sob a orientação da Direcção presidida pelo Prof. Eng.° Manuel Gomes Guerreiro, tendo sido inaugurado oficialmente em 21 de Abril de 1964, pelo Governador-Geral de Moçambique, Contra-Almirante Sarmento Rodrigues. Registam-se também as numerosas e várias ofertas recebidas de diversas entidades para o apetrechamento do novo Edifício-Sede.
Na sua estrutura actual, a Sociedade de Estudos compreende as seguintes secções: Artes e Humanidades; Ciências Exactas; Ciências Naturais; Ciências Sociais; Agro-Pecuária; Economia e Finanças; Engenharia e Arquitectura; Legislação e Jurisprudência; Medicina, Veterinária e Farmácia; Estudos Brasileiros; Estudos Franceses; Etnologia Africana; Feminina; e de Iniciação Cultural.
No relatório da Direcção, relativo a 1964, figura o seguinte resumo das sessões públicas realizadas naquele ano: 21 conferências; 39 conferências ou lições incluídas em cinco ciclos de conferências e cursos; 6 exposições diversas; 7 sessões de cinema; 18 sessões de cinema para jovens, com filmes educativos e recreativos.
A Sociedade de Estudos de Moçambique muito tem contribuído para o estudo e valorização da Província de Moçambique, assim como para o seu desenvolvimento moral e intelectual”.
Num país agora confinado às suas fronteiras europeias e, por vezes, de costas voltadas para um passado, mais ou menos, recente, entendo, em nome de uma necessária justiça e apego à memória dos factos, que a juventude portuguesa deve ser despertada para as realizações portuguesas além-mar como esta sobre o valioso espólio científico e cultural da Sociedade de Estudos de Moçambique até 25 de Junho de 1975, data da Independência deste jovem e promissor país do continente africano. E numa altura de lamúrias sobre o nosso presente e descrença sobre o nosso futuro como nação secular, tento encontrar réstias de esperança em Eça quando, como agora, o revisito: “Uma nação, vive, prospera, é respeitada, não pelo seu corpo diplomático, não pelo seu aparato de secretarias, não pelos banquetes cerimoniosos de camarilhas: isto nada vale, nada constrói, nada sustenta; isto faz reduzir as comendas e assoalhar o pano das fardas – mais nada. Uma nação vale pelos seus sábios, pelas suas escolas, pelos seus génios, pela sua literatura, pelos seus exploradores científicos, pelos seus artistas”.
Outubro 26, 2011
A MARCHA DA MALHANGALENE, ANOS 40
Fotografia muito gentilmente enviada pelo Fernando Simões, amigo de meu pai.
Outubro 24, 2011
ALMOÇO ANUAL DOS ANTIGOS NADADORES DE MOÇAMBIQUE É NO DIA 19 DE NOVEMBRO DE 2011, HOMENAGEIA DULCE GOUVEIA
O 30º Encontro Anual dos Antigos Nadadores, Treinadores, etc, de Moçambique, vai acontecer no Sábado, dia 19 de Novembro de 2011.
Tal como votado e decidido em 2010, nesta ocasião será homenageada a ex-nadadora do Desportivo, Dulce Gouveia.
Cuidado com a data limite para inscrições que é no dia 7 de Novembro. Todos os detalhes sobre o encontro estão na ficha a seguir à foto da Dulce que está a seguir (para a ver melhor, prima duas vezes na imagem da ficha com o rato do computador).
Como parte das festividades, vão estar lá não só o Alberto Sousa Costa (Pidgi) mas também nada menos que três das quatro irmãs Botelho de Melo (Paula, Cló e Lelé), todos vindo das estranjas especialmente para esta ocasião.
AVISO (7 DE NOVEMBRO DE 2011) – ALTERAÇÃO DO RESTAURANTE –
DADA A GRANDE AFLUÊNCIA DE PARTICIPANTES, O LOCAL ONDE SE VAI REALIZAR O ALMOÇO NO DIA 19 DE NOVEMBRO PASSARÁ A SER O RESTAURANTE REGIÕES, SITUADO PERTO DO TAGUSPARK EM OEIRAS (VER TODOS OS DETALHES EM BAIXO).
Outubro 10, 2011
Junho 15, 2011
SOBRE O DESPORTO ESCOLAR, PELO PROF. RUI BAPTISTA
Texto e foto gentilmente enviados pelo Senhor Prof. Rui Baptista.
Bem se desunham os actuais responsáveis pelo desporto escolar em tentar prover o seu desenvolvimento. Tarefa ingrata…e sem frutos que se veja quando comparado com a obra levada efeito pela extinta Mocidade Portuguesa (MP) tentando esconder o seu esqueleto no armário da sua mediocridade. Como é do conhecimento de quem viveu esses tempos, a MP foi alfobre de muitos atletas e até campeões olímpicos, mormente na Vela e na Esgrima. Eram dedicadas ao desporto escolar as tardes de quarta-feira e as manhãs de sábado.
Este texto constitui prova do que se passava em Moçambique. Chamo a atenção da luta que mantive com o Comissariado da MP para que o desporto escolar se não encontrasse divorciado do desporto federado. Consegui-o com a criação do Centro Desportivo Escolar de Lourenço Marques (CDELM) que só tinha paralelo na então Metrópole, mas a um outro nível: reporto-me ao CDUL (Centro Desportivo Universitário de Lisboa). Neste particular, quer a Escola Industria Mouzinho de Albuquerque, quer a Escola Comercial Dr. Azevedo e Silva, quer ainda o Liceu Salazar (“last but not least”) muito animaram os campeonatos escolares com campeonatos provinciais e nacionais.
Rui Baptista
Junho 3, 2011
BREVES SUBSÍDIOS PARA A HISTÓRIA DO CULTURISMO EM MOÇAMBIQUE, PELO PROF. RUI BAPTISTA
(texto da autoria do Sr. Prof. Rui Baptista)
Respondendo ao amável convite do meu amigo António Botelho de Melo (Tomané), sempre pronto em noticiar acontecimentos desportivos ocorridos nessa saudosa terra do Índico, eis-me aqui novamente, com o prazer que me dá recordar esses tempos.
Começo por transcrever pequenos excertos de uma longa entrevista por mim dada ao jornal moçambicano “NOTÍCIAS” (23/09/1963), em vésperas da realização dos “Campeonatos Abertos de Bench Press”, inseridos nas Comemorações do 39º ano do Clube Ferroviário de Moçambique:
“Natural me parece que o Ginásio apresente uma equipa mais forte. Fundamenta-se esta minha convicção na existência da sua secção de Pesos e Halteres ainda mesmo antes da minha chegada a esta cidade vai para cima de seis anos. O Ferroviário tem a sua secção a funcionar há mais ou menos dois anos. Forçosamente, este é um factor a ter em consideração. Seja como for, a equipa que treino vai na disposição de discutir o primeiro lugar, já que o segundo está desde já ao seu alcance!!! O que mais importa é o progresso da modalidade que só será possível e desejável com competições deste género.
O júri deste concurso é constituído por um presidente (convidado pelo Ferroviário) e por dois juízes: um do ginásio e outro do clube organizador (Ferroviário). Foi convidado para presidir ao júri , o Delegado da Federação Portuguesa de Ginástica em Moçambique , o major Garcia Alvarez, sendo os juízes por parte do Ginásio e do Ferroviário, respectivamente, os senhores Carlos Costa e Epifânio Cunha.
Tínhamos ouvido o suficiente para esclarecermos os nossos leitores do que será a realização dos ‘locomotivas’ no campo dos pesos e halteres.
Agradecemos ao professor Rui Baptista a atenção dispensada e ele lá foi para a sua tarefa de contribuir para que a juventude local se torne mais forte e saudável pela cultura física , praticada em bases pedagógicas certas, de experiência e saber feitas por quem sabe o que quer e para onde caminha, através de uma acção profissional assente em preparação que se torna indispensável para bem servir e cumprir!”
Finalmente, na noite de 28 de Setembro de 1963, realizou-se, no Ginásio do Clube Ferroviário, repleto de um público entusiasta, a referida competição com a participação de sete atletas do Ginásio de Lourenço Marques, 12 do Clube Ferroviário de Moçambique e um independente. Dou agora notícia dos atletas classificados nos primeiros três lugares das três categorias: leves, médios e pesados. Assim:
CATEGORIA DE LEVES (atletas com o peso corporal até 67,5 quilos )::
1.º Carlos António (Carvalhinho), do Clube Ferroviário de Moçambique (CFM) com o peso corporal de 60 quilos, e o levantamento de 101,925 quilos.
2.º Pedro Laranjeira, do CFM, com o peso corporal de 62,5 quilos, e o levantamento de 86,07 quilos.
3.º Artur Roxo, do CFM, com o peso corporal de 65,1 quilos, e o levantamento de 86,07 quilos.
CATEGORIA DE MÉDIOS ( atletas com o peso corporal até 82,5 quilos):
1.º Rui Baptista, do CFM, com o peso corporal de 75 quilos, e o levantamento de 122,31 quilos.
2.º Veloso do Amaral, Ginásio de Lourenço Marques (GLM), com o peso corporal de 71,9 quilos, e o levantamento de 117,78 quilos.
3.º Manuel Carvalho (Baião), do GLM, com o peso corporal de 79,5 quilos, e o levantamento de 117,78 quilos.
CATEGORIA DE PESADOS (atletas com o peso corporal acima dos 82,5 quilos):
1.º José Coelho, do CFM; com o peso corporal de 90 quilos, e o levantamento de 134,08 quilos.
2.º Leong Siu Pun, do GLM, com o peso corporal de 83,2 quilos, e o levantamento de 131,37 quilos.
3.º Fernando Morgado, do CFM, com o peso corporal de 85,5, eo levantamento de 80,6 quilos.
Para a classificação por equipa (conforme constava do regulamento do concurso) foram atribuídos 3 pontos ao 1º. classificado de cada uma das categorias, 2 pontos ao 2.º classificado e 1 ponto ao 3.º classificado. Venceu a competição a equipa do Clube Ferroviário de Moçambique com 13 pontos, tendo a equipa do Ginásio de Lourenço Marques obtido 5 pontos.
Julgo de interesse referir que nesse tempo os esteróides, substâncias aceleradoras do crescimento da massa muscular e aumento da força, não constavam da preparação “química e criminosa” destes atletas tornando estes resultados de grande nível nacional (não tenho dados comparativos que me permitam considerar uns tantos como recordes nacionais). Mais esclareço que todos estes resultados estão certificados por dois artigos do jornal “Tribuna” (respectivamente publicados em 29 de Setembro e 1 de Dezembro de 1963), cujos recortes mantenho em meu poder numa pasta de artigos que o tempo e as traças tentam destruir.
Por último, seria interessante que algum ou alguns dos atletas que participaram neste Campeonato enriquecessem este modesto post com os seus comentários. Seria uma forma de avivar a recordação desses tempos e estabelecer contacto com atletas que muito dignificaram o culturismo moçambicano. Valeu?
Maio 13, 2011
A PISCINA DO CLUBE DO NIASSA EM NAMPULA, 1956
Foto gentilmente cedida por Bebé Amaro Morais.
Quem souber nomes ou mais detalhes sobre esta fotografia, por favor escreva para aqui.
Abril 16, 2011
ENCONTRO E ALMOÇO DOS NADADORES DO SPORTING DE LOURENÇO MARQUES E CONVIDADOS ESPECIAIS FRANCISCO VELASCO, FERNANDO MADEIRA EZEQUIEL GAMEIRO DAS NEVES, 16 DE ABRIL DE 2011
Com um cuidadoso planeamento da responsabilidade principalmente dos irmãos Viriato e Sertório da Silveira, realizou-se no sábado, dia 16 de Abril de 2011, um encontro de antigos nadadores do Sporting de Lourenço Marques, da década de 1950-1965.
Entre os convidados de honra do grupo, encontravam-se:
– Francisco Velasco, campeoníssimo de hóquei em patins e um expoente do desporto moçambicano (e que tem um fabuloso blogue (ver AQUI) contendo um tesouro de informação sobre o seu percurso pessoal, o hóquei em patins e o desporto em Moçambique antes da Independência). Neste dia, o Francisco Velasco foi “nadador honorário”.
– Fernando Madeira, um grande campeão da natação portuguesa.
– Ezequiel Gameiro das Neves (Véca), que para além de grande nadador, foi um destacado dirigente da Federação Portuguesa de Natação.
Março 31, 2011
LOURENÇO MARQUES/MAPUTO, OS PESOS E HALTERES E O DOUTOR COOPER, POR RUI BAPTISTA
O texto que se segue é da autoria do Sr. Professor Rui Baptista.
Os processos da ciência são característicos da acção humana, porque se movem pela indissolúvel união do facto empírico e do pensamento racional. – J. Bronowski.
Faz parte do meu passado de dezoito anos, na então Lourenço Marques, e do meu grato retorno, ainda que por escassos dias, a Maputo, este trabalho de investigação sobre os Pesos e Halteres (na modalidade de Culturismo) que os tenho como factor muito favorável para a saúde cardiovascular dos seus praticantes se livre de substâncias anabolizantes que anulam por completo esse efeito, contribuindo até para um rol de doenças que arruínam não só o coração como outros órgãos vitais conduzindo-os, por vezes, à sua própria falência.
Vivia-se, então, uma época em que era atribuída à sua prática, pela “vox populi”, e mesmo pela maioria de professores de Educação Física e médicos, diversos mitos sobre os seus malefícios de que destaco três: 1. Fazer mal ao coração; 2. Prender os músculos; 3. Prejudicar o crescimento do esqueleto dos jovens.
O doutor Kennet Cooper fez-se advogado dos malefícios dos Pesos e Halteres para a saúde cardíaca no seu livro “Capacidade Aeróbica” (1972), com a autoridade que lhe advinha da sua profissão de médico e investigador com tamanho interesse pela prática desportiva que na respectiva licenciatura defendeu tese no campo da fisiologia desportiva, entrando, anos depois, para o serviço da Força Aérea onde passou a ter a responsabilidade pelo exigente treino físico dos astronautas norte-americanos. Assim, escreveu ele: “Os levantamentos de peso não aumentam o fluxo da corrente sanguíneo”.
Ou seja, Cooper tornou-se o representante de um sólido axioma pelo arsenal científico de investigação que envolveu um número inicial muito representativo de 5.000 “cobaias”, militares da Força Aérea. O previsível entusiasmo que o seu livro iria despertar em todo o mundo levou um senador norte-americano a considerá-lo “como uma valiosa contribuição para uma América mais sadia”. E o panegírico do senador não se ficou por aqui: “Tenho a certeza de que quando o livro for um ‘best-seller’ (e quanto a isso não tenho a menor dúvida) irá contribuir mais para a saúde e longevidade dos americanos do que qualquer outra descoberta ou realização do ano no campo da Medicina”. Verdade seja dita: a venda deste livro e sua divulgação excedeu largamente as expectativas porque lido, quase como uma bíblia para a aquisição de uma boa forma física, por um incalculável número de pessoas espalhadas pelos quatro cantos do globo.
Foi, portanto, neste clima de polémica de David contra Golias, que tive o “arrojo”, e ao que sei em acção pioneira, de proferir uma conferência, em 2 de Julho de 1973, na “Sociedade de Estudos de Moçambique”, agremiação científica e literária, Palmas de Ouro da Academia de Ciências de Lisboa, intitulada “Os pesos e halteres e a função cardiopulmonar segundo o teste de Cooper”. Teve esta conferência uma crítica bastante favorável por parte da imprensa moçambicana.
Ampliei esta conferência com um outro estudo sobre os efeitos dos Pesos e Halteres nos valores da tensão arterial dos respectivos praticantes, tendo procedido às respectivas medições o Drs. Jorge Pessoa Monteiro, assistente do Curso de Medicina da Universidade de Lourenço Marques, e o recém-licenciado em Medicina Raul Silveira, atleta de competição de atletismo. De posse destes estudos, mês e meio depois, publiquei um livro com 97 páginas intitulado “Os pesos e halteres, a função cardiopulmonar e o doutor Cooper.
Em 1997, apresentei, integrada no “V Congresso de Educação Física e Ciências do Desporto dos Países de Língua Portuguesa” (Maputo, 24-28 de Março), uma Comunicação intitulada “Modificações tensionais provocadas pelo levantamento de pesos”.
A importância deste Congresso foi posta em destaque, através da seguinte mensagem: “A realização deste já prestigiado evento em Moçambique constitui um motivo de honra, orgulho e alegria para nós Moçambicano, para a Universidade Pedagógica e muito particularmente para o corpo docente e discente da Faculdade de Ciências de Educação Física e Desporto. Honra por termos sido convidados a fazê-lo, orgulho por estarmos a cumprir o desafio e alegria por recebermos nesta nossa modesta e ainda muito jovem Faculdade colegas dos mais variados pontos do mundo que comunicam em Língua Portuguesa”.
Finalmente, em 2002, por saber do grande prestígio que desfrutava no mundo da fisiologia do exercício físico, acrescido do facto de ser um dedicado praticante de pesos e halteres, enviei o meu livro “Os Pesos e Halteres, a função cardiopulmonar e o doutor Cooper” ao Doutor José Maria Santarem, doutor em Medicina pela Universidade de S. Paulo (Brasil), senhor de um invejável e longo currículo de que enuncio, apenas: 1) Coordenação de Cursos de Pós-Graduação da Faculdade de Medicina da Universidade de S. Paulo (CECAFI) em Fisiologia do Exercício e Treinamento Resistido na Saúde, na Doença e no Envelhecimento; 2) Coordenador do Ambulatório de Atividade Física da Disciplina de Geriatria da referida Faculdade,; 3) Autor do capítulo “Treinamento de Força e Potência” da obra “O Exercício – Preparação Fisiológica, Avaliação Médica, Aspectos Especiais e Preventivos”. Mereceu o livro uma crítica lisonjeira, cujo “fac símile” é apresentado numa das fotografias aqui publicadas. Desta forma, julgo ter ficado demonstrado que em Moçambique os Pesos e Halteres mereceram estudos pioneiros de investigação numa época em que o nome de Kenneth Cooper desacreditava fortemente a sua prática.
Tal facto, por si só, justifica a extensão deste meu texto em relato de uma acção em defesa de uma prática desportiva que teve atletas valorosos em Moçambique, terra da minha saudade da sua gente e de uma vida profissional aí decorrida durante aproximadamente duas décadas.
Nota final: Esclarece-se que os atletas testados não praticavam qualquer forma de corrida associada à prática dos pesos e halteres por existir o mito de que a corrida era desfavorável ao crescimento muscular. Este teste realizado nos dias de hoje teria como resultado não se saber até que ponto a corrida poderia influenciar os respectivos resultados.
As fotografias aqui publicadas e legendadas mais não pretendem do que documentar o respectivo texto:
Março 22, 2011
VIRIATO DA SILVEIRA, 2010
Sertório Silveira, irmão de Viriato da Silveira, foi nadador. Aqui, no encontro dos antigos nadadores de Moçambique em 2010, com ABM.
Fevereiro 15, 2011
SOBRE O CULTURISMO
Este texto é da autoria do Prof. Rui Baptista.
Reporta-se esta fotografia a dois praticantes de culturismo que foram meus alunos no Clube Ferroviário de Moçambique: o primeiro a contar da esquerda, Adolfo Figueiredo, também meu aluno da Escola Industrial, e Manuel Carvalho (Baião) o terceiro.
Foi-me ela enviada da Austrália pelo Baião, que aí vive desde da Independência de Moçambique, como prova muito grata para mim, de que a distância de milhares e milhares de quilómetros não enfraquece (bem pelo contrário!) uma amizade que atravessa continentes sem se perder na poeira do tempo de 57 aos dias de hoje.
Vivia-se então uma época em que se não advinhava sequer que Arnold Schwarzennegger, nascido na Áustria (30/06/1947), se viria a sagrar sete vezes “Mr. Olympia”, desempenhar papéis de acção em filmes de Hollyood e ser nomeado 36.º governador do Estado da Califórnia. Eram outros tempos. Tempos em que escrevi no meu livro esgotado(citado aqui em outras ocasiões) “Os Pesos e Halteres, a função cardiopulmonar e o Doutor Cooper”, Lourenço Marques, 1973, pp. 16-17, o texto que reproduzo abaixo:
Instituto Nacional de Educação Física, 1955.
Um finalista propõe-se apresentar, como dissertação final de formatura, um tema escaldante, explosivo mesmo: ‘Pesos e halteres, alguns aspectos mecânicos e anatomo-fisiológicos da modalidade’.
Expõe, com o entusiasmo dos seus vinte e poucos anos, a sua intenção ao então director da Escola, Doutor Mário Gonçalves Viana, que o escuta atenta e compreensivamente, mas que lhe pergunta de chofre: ’Pretende o Curso para o exercer como meio de sustento futuro ou tem outra actividade profissional em mente?’
A resposta foi afirmativa para a primeira destas alternativas, o que conduz ao conselho amigo: ‘Se assim é, se pretende, na verdade, obter a Carta de Curso, desista da sua intenção, porquanto os obstáculos e as dificuldades que vai enfrentar na sua defesa são quase impossíveis de superar’ [referia-se ele aos professores de uma escola superior e tradicional para quem os pesos e halteres representavam uma espécie de afronta aos conhecimentos científicos à época].
Assim, viu-se ele coagido a desistir.
Esse finalista era eu, que confesso a derrota sofrida pelo meu espírito polémico, embora prometendo a mim próprio prosseguir agora, como em outras ocasiões, na luta que sei não me trazer glória e muito menos aplausos. Unicamente a satisfação de um dever cumprido na obrigação de explicar por que pratico pesos e halteres, desde os dois últimos anos do liceu [actuais 11.º e 12.º anos do ensino secundário] e, o que é mais importante, me responsabilizo pela orientação de inúmeros praticantes desta modalidade (há doze, catorze anos? Sei lá!) nesta parcela do Índico.
Todavia, poucas obrigações terão tido para mim a imperiosidade desta e o prazer que me dá o seu público cumprimento numa instituição com a tradição científica da Sociedade de Estudos de Moçambique.
E porque este blogue é um repositório da história do Desporto em Moçambique, recordo aqui o nome de um famoso praticante de culturismo, falecido anos atrás, que conheci aquando da minha chegada a Lourenço Marques, de apelido Nascimento, mas mais conhecido por “Barbell” (nome dado às barras de aço em que se colocam os discos de peso). Esta uma singela homenagem que muito viria a ganhar se, porventura, houver quem dele possua uma fotografia e a envie para o Delagoa Bay.